José
Menezes Gomes (Doutor pela USP, Pos doutor pela UFPE, professor de
economia da UFAL Santana do Ipanema e do Mestrado em Serviço Social)
Na mobilização dos professores da IFES, quando se buscava a
aprovação do indicativo de greve, constatamos uma adesão maior nas
universidades federais do norte e nordeste, especialmente partindo da
precarização extrema vinda do interior. Parte deste fenômeno pode
ser explicado pelos dados seguintes. Na UFAL de maceió o
departamento de economia tem 26 professores para 45 disciplinas.
Nesta mesma universidade o curso de economia de Santana do Ipanema
tem 12 professores e 45 disciplinas. Aqui temos professores em media
com 5 disciplinas, onde o coordenador geral tem 7 disciplinas.
Neste curso o problema não está apenas na falta de professores,
mas também na ausência de prédio próprio, pois funciona em
prédio alugado de uma escola privada, no turno não usado por ela.
Destaque-se que a direção desta escola não queria renovar o
aluguel. Além disso, os alunos não dispõem de Restaurante
Universitário, Casa de Estudante, bolsa permanência, iniciação
científica, etc. Os alunos da Ufal Santana entraram em greve dia 29
de maio por uma longa e justa pauta de reivindicação. Neste polo
temos uma grande evasão de alunos, de professores e técnicos
administrativos. Esta evasão em grande escala representa uma saída
passiva ao elevado grau de precarização desta interiorização.
Enquanto isto, no curso de economia na UFJF em Gov. Valadares temos
16 professores para atender as 26 disciplinas. Se comparamos o curso
de economia da UFAL em maceió com o de economia de Santana teremos
uma diferença de 10 professores a menos no interior. Comparando a
UFAL Santana com a economia de Gov. Valadares teremos teremos 4
professores a menos para Santana. Se compararmos o curso de economia
UFAL Maceió com o curso de economia de Gov. Valadares teremos 7
professores a mais para UFAL Maceió, sendo que em Maceió temos um
mestrado em economia em funcionamento. Aqui fica bem claro a
distinção que existe na implantação do REUNI entre os Campus do
Interior entre Gov. Valadares e Santana UFAL e dentro da mesma UFAL.
Os professores que estão no nordeste e no interior vivem um
verdadeiro terror nas condições de trabalho e baixa remuneração
já em grande parte são mestres, que tem esperar dois anos para
deixar de receber como professor Assistente, inicio de carreira como
proposto no acordo assinado pelo PROIFES em 2012. Isto não significa
que os demais professores não estejam atuando em condições
precárias porém por outros meios, já que estão submetidos ao
controle patronal estabelecidos pela CAPES tendo uma grande carga de
trabalho em vista o produtivismo dentro da Pesquisa e Extensão.
O certo é que o REUNI mantém o principio da existência dos
centros de excelências e os grandes escolões para a chamada
periferia proposto por FHC. Além desta distinção temos diferenças
entre a capital e o interior. As várias tentativas de desconstrução
da Carreira Docente de 1987 iniciadas com FHC se aprofundaram com
Lula da Silva e Dilma Roussef. Esta diferenciação entre os docentes
não se deve apenas a questão geográfica mas as etapas de
desconstrução dos direitos dos SPFs. Atualmente temos os
professores com mais titulação e remuneração nas capitais onde
atuam na pós graduação. Todavia, nas capitais temos possivelmente
30% dos professores que estão fora da carreira por não terem
concluído doutorado.
Os professores que atuam no interior em grande parte são
professores novos que estão em prédios e instalações precárias,
sem laboratórios, com quase o dobro da carga de aulas, não terão
no futuro direito a aposentadoria pública e integral e não dispõe
de liberação para capacitação, o que dificulta a progressão na
carreira. Estes desafios ameaçam a fragmentação politica dos
professores e estão presentes nas deliberações sobre os
indicativos de greve. Todavia, precisamos recompor os laços de
solidariedade entre os professores. Para tanto é fundamental a
defesa da Universidade com o seu tripé: Ensino, Pesquisa e Extensão,
pois esta concepção pressupõe a existências dos direitos dos
trabalhadores.
Se as reitorias, como braço do MEC conseguiram impor a brutal
jornada de trabalho aos novos professores, especialmente àqueles que
estão atuando no interior, o passo seguinte será adotar este padrão
nos cursos das capitais. A propósito, neste momento vimos o
enfrentamento ao REUNI, principalmente onde ele é mais precário,
mas também temos a greve nas três universidades paulistas que de
forma diferente questiona o processo de expansão que teve inicio nas
três paulistas desde 2000 no governo de São Paulo do PSDB, e no
governo federal do PT desde a introdução do REUNI em 2007. Dois
governos que aparentemente seriam diferentes, mas que praticam a
mesma ação: fazer mais com menos orçamento para garantir o
pagamento do serviço do dívida pública. A precarização do
trabalho sobre os trabalhadores do setor público e por sua vez
sobre os professores, é a manifestação do mesmo fenômeno que
marcou o inicio do neoliberalismo, inicialmente entre os
trabalhadores do setor privado, que agora se expande entre os
professores. O adoecimento docente ocorre seja entre os professores
associados ou entre os novos novos tendo em vista a intensificação
do trabalho. PROFESSORES, UNI-VOS À LUTA DOS DEMAIS TRABALHADORES
CONTRA A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO.
BNC Educação