Rio de Janeiro - A seleção brasileira não terá seus dois jogadores mais importantes na semifinal contra a Alemanha, terça-feira, no Mineirão.
Em meio à comoção pela perda de Neymar, craque e artilheiro, o técnico
Luiz Felipe Scolari agora terá o desafio de reconstruir o time e
transformar o baque em combustível. Além do atacante, também está fora
da partida o capitão Thiago Silva, que fez uma Copa impecável nos cinco
jogos em que atuou. A boa notícia é a volta do volante Luiz Gustavo, que
cumpriu suspensão contra a Colômbia.
Neymar e Thiago Silva são
considerados os dois mais importantes atletas da seleção brasileira,
além de terem sido duas das contratações mais caras da história do
futebol mundial. Um é um gênio do ataque, o outro, da defesa, ambos
fazem os companheiros ao redor melhores e geram preocupação e até
mudanças de sistema por parte dos adversários. Para alguns analistas, a
Alemanha já teria certo favoritismo contra o Brasil por ser um time
experiente, que joga junto e de forma consistente há muitos anos. A
vantagem seria ainda maior pelos desfalques brasileiros - ainda que,
antes da Copa, tenha sido a própria Alemanha que tenha perdido seis
jogadores convocáveis por lesão, entre eles um dos atacantes mais
criativos do futebol europeu, Marco Reus.
"Quase cem por cento
vão achar que a Alemanha é favorita, porque ninguém acredita em nós. É
só nossa família em casa", disse o capitão Thiago Silva à BBC Brasil, em
tom irônico. O zagueiro, que teve a liderança contestada por se isolar e
se emocionar antes mesmos dos pênaltis contra o Chile, nas oitavas de
final, foi um dos mais incomodados pelas críticas e as dúvidas sobre o
estado emocional do time.
"Eu até agradeço. É nesse momento que
eu cresço. A gente fica chateado um pouquinho porque foi falada muita
besteira, baboseira, babaquice e a gente se exalta um pouco, não tem
sangue de barata. Jogar desfalcado não vai tirar pressão da gente, a
gente sabe o que tem que alcançar dentro da competição. Para mim, é 50%
para cada lado, talvez a gente tenha um pouquinho de favoritismo por
jogar em casa. Mas, para muitas pessoas, a gente nem iria chegar onde
estamos chegando", falou Thiago.
Ausências
A CBF
(Confederação Brasileira de Futebol) ainda tenta recorrer do cartão
amarelo recebido por Thiago Silva contra a Colômbia, em um lance em que
ele acabou bloqueando a reposição de bola do goleiro. Em um jogo cheio
de faltas duríssimas, em que o árbitro espanhol Carlos Velasco Carballo
economizou cartões, acabou sendo mostrado um em uma jogada considerada
"boba". O próprio capitão disse acreditar que Dante será o substituto na
partida contra a Alemanha, mas está aberta a possibilidade de que jogue
Henrique, ex-zagueiro de Luiz Felipe Scolari no Palmeiras e jogador
mais contestado quando foi anunciada a convocação, em maio.
"É
uma perda significativa, mas vamos trabalhar para fazer um grande jogo",
comentou o zagueiro Dante. Titular do Bayern de Munique, ele conhece
bem grande parte do time alemão e, também por isso, é o grande favorito
para jogar. "Eles sabem sair de todas as situações, nas bolas paradas
são perigosos. Não tem um jogador para ter atenção especial, é um
conjunto. Conheço as qualidades deles, mas alguns defeitos também",
avisou.
Já a substituição de Neymar é outra história. Ao longo
dos últimos anos, se consolidou a ideia de que o Brasil não conseguiria
ganhar a Copa do Mundo se seu jogador mais decisivo não brilhasse no
torneio. Foi falado em "Neymardependência" durante a fase de grupos.
Mas, de fato, o Brasil conseguiu passar pelo Chile e ganhar da Colômbia
com duas atuações discretas do atacante. "A seleção brasileira não é só
o Neymar", avisa Thiago Silva. "Sabemos da qualidade que tem o Neymar,
mas temos jogadores que podem suprir a ausência dele", disse o volante
Hernanes, um dos que podem entrar no time.
Vida sem Neymar
Scolari tem três opções mais "simples" para substituir Neymar e outra "revolucionária".
A opção mais provável é a entrada de Willian, meia do Chelsea que foi
revelado pelo Corinthians. Um jogador que fez uma temporada fantástica
na Inglaterra, treinou muito bem durante todo este período com a seleção
e tem qualidade. Sabe jogar colado ao lado de campo, tem senso tático
de marcação, drible e finalização, além de poder trazer uma presença
maior para a seleção no meio de campo. "Estou pronto, sempre me mantive
pronto para qualquer ocasião", falou à BBC Brasil Willian, que acabou
sofrendo uma pancada nas costas no treino do último sábado.
Outra opção é Ramires, um volante que pode atuar pelos lados do campo,
como faz também no Chelsea - Scolari gosta mais de Ramires como homem
aberto do meio de campo do que como volante. Esta opção traria mais
consistência de marcação e levaria Oscar para uma posição centralizada,
atrás de Fred. Oscar teria menos obrigações defensivas e mais liberdade
para criar e chegar ao ataque, coisa que só fez bem na estreia, contra a
Croácia.
A terceira opção "simples", mas mais improvável, é a
entrada no time do mais jovem do grupo, o atacante Bernard. Ele é o
jogador mais parecido com Neymar no que se refere à agressividade com a
bola e a busca do drible para romper a defesa adversária. Mas é muito
jovem e é difícil imaginar que Scolari o coloque em uma "fogueira" como
esta, na semifinal da Copa do Mundo.
A opção "revolucionária"
seria sacar Fred do time. O centroavante vem sendo alvo da torcida nas
redes sociais e é considerado por analistas o mais inoperante do time
até agora no Mundial. Sem Neymar, ele ficaria ainda mais isolado. Se
tirar Fred, Scolari poderia usar um volante a mais (Paulinho, Hernanes
ou mesmo Ramires) para fazer companhia a Luiz Gustavo e Fernandinho no
meio.
A Alemanha é um time que gosta de controlar o jogo com
posse de bola no meio de campo, e um sistema com mais um homem de
marcação poderia ser a solução para não deixar a seleção europeia
dominar completamente a partida. Neste cenário, Willian entraria no time
no lugar de Neymar e, ao lado de Oscar e Hulk, formaria uma linha de
ataque sem um "camisa 9", mas com velocidade para machucar uma defesa
alemã que gosta de jogar adiantada.
Questionado pela TV Globo no
sábado à noite sobre a possibilidade de "trancar a casinha", Scolari
deu indicações de que este não é o plano. "É difícil. Temos bons
jogadores para não ter de mudar o esquema, como Willian, Bernard e o
Ramires, trazendo o Oscar para o meio", falou o treinador.
Na
única vez em que Brasil e Alemanha se enfrentaram na história das Copas
do Mundo, a seleção levou a melhor. Foi na final da Copa de 2002, em
Yokohama, no Japão. Na ocasião, o time treinado por Scolari ganhou por 2
a 0, com dois gols de Ronaldo. Curiosamente, 12 anos atrás era a
Alemanha que estava desfalcada de seu melhor e mais decisivo jogador, o
meia Michael Ballack.
O jogo de terça será disputado no estádio
do Mineirão, em Belo Horizonte, às 17h (horário de Brasília). Na
quarta-feira, no mesmo horário, a segunda semifinal reunirá Argentina e
Holanda em São Paulo. A decisão está marcada para o domingo, 13 de
julho, no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.
Fonte: BBC Brasil
BNC Copa do Mundo