Uma onda de instabilidade atingiu o Líbano, levando o país a terminar um
ano volátil de forma turbulenta. A violência na capital, Beirute, e o
crescimento de tensões sectárias por todo o país crescem em meio a uma
paralisia política e às repercussões do conflito na Síria.
Em 2011, quando a erupção popular começou na Síria, o governo libanês
assumiu uma política de imparcialidade, tentando afastar o país do que
viria a ser uma sangrenta luta entre o regime do ditador sírio Bashar
al-Assad e os rebeldes armados. Seu objetivo fracassou com o
envolvimento direto de grupos libaneses na guerra da Síria.
Tanto a explosão no reduto do Hizbullah no sul de Beirute, na
quinta-feira, como o assassinato do estrategista anti-Assad Muhammad
Chatah na semana anterior têm ligações com o conflito na Síria. A
decisão do Hizbullah de se envolver militarmente na Síria em maio,
lutando ao lado das forças do regime de Assad, foi um convite à
retaliação dentro do Líbano.
Politicamente, a intervenção afastou o Hizbullah, o maior grupo xiita do
país, da luta contra Israel e fortaleceu a oposição entre sunitas e
xiitas, sobretudo na Síria.
A atitude do Hizbullah, ao mesmo tempo em que contribui em larga escala
para que Assad mantenha uma vantagem militar contra os rebeldes na
fronteira com o Líbano e no entorno de Damasco, fez o Líbano mais
vulnerável.
Desde o ultimo verão, o bairro do grupo no sul de Beirute, conhecido pela segurança, foi alvo de três carros bombas.
O grupo Brigada Abdullah Azzam, identificado como organização terrorista
afiliada à Al-Qaeda pelos EUA, reivindicou responsabilidade.
A proeminência da Brigada Azzam não é isolada. O crescimento de grupos
extremistas sunitas no Líbano é também consequência do vazio de poder e
da crise de liderança sunita. A paralisia dominou a cena política no
país desde a renúncia do primeiro-ministro Najib Mikati, em março de
2013.
A ausência de líderes moderados com credibilidade depois do assassinato
do primeiro-ministro Rafik Hariri em 2005 frustrou os sunitas e
possibilitou a ascensão de radicais religiosos.
Há uma escalada de tensão na maior cidade sunita do Líbano, Trípoli,
onde são frequentes confrontos entre sunitas e alauitas (ramo dos
xiitas) armados.
O Líbano precisa sair da espiral de mandatos instáveis e formar um
governo que atenda às demandas dos sunitas e fortaleça o funcionamento
do Estado.
Até que isso aconteça, o país, que já foi celebrado como a "Suíça do
Oriente Médio", permanecerá no olho do furação, propenso a mais
instabilidade e inquietações políticas.
JOYCE KARAM é correspondente do "Al-Hayat", jornal árabe internacional sediado em Londres.
BNC Mundo
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