São Luis - Na primeira entrevista da coluna Sexta-feira Quente de 2014, o Blog do Robert Lobato
tem o prazer de contar com a participação democrática do advogado,
militante político e social, e destacado ativista dos direitos humanos
Luis Antônio Pedrosa.
Pedrosa faz uma análise interessante,
democrática e com rara causa de conhecimento técnico e político sobre a
crise que o estado do Maranhão enfrenta na área da segurança pública e
do sistema carcerário.
Na entrevista, o advogado fala ainda
sobre os conflitos agrários e fundiários do Maranhão, avanços e desafios
na área dos direitos humanos, atuação da OAB-MA e as responsabilidades
do Governo Federal na questão da segurança.
Pré-candidato a governador pelo Psol,
Luis Antônio Pedrosa relacionou suas principais bandeiras de campanha e
revelou com quais partidos pretende enfrentar as urnas em outubro deste
ano.
Comentou ainda sobre as semelhanças
políticas, programáticas e pragmáticas que vê entre entre os candidatos
Flávio Dino (PCdoB) e Luis Fernando (PMDB).
A seguir a íntegra da entrevista.
“É difícil pôr em prática qualquer projeto de mudança sério e efetivo com o grupo liderado pelo PCdoB, onde figuram personalidades políticas carimbadas da vida política do estado”
PEDROSA POR ELE MESMO
Eu sou um ativista de direitos humanos e
advogado por profissão. Militei no movimento estudantil, fui
coordenador do diretório acadêmico do curso de Direito, representante
estudantil no colegiado e diretor do Diretório Central dos Estudantes da
UFMA. Fui militante do Partido dos Trabalhadores até a crise de 2010,
onde houve a imposição da coligação formal com o PMDB (do Grupo Sarney).
A partir daí busquei contribuir para o fortalecimento de outro campo
político, onde estou atualmente, porque defendo a disciplina partidária e
compreendo que o PT e o grupo Sarney hoje são indissociáveis.
A JUVENTUDE
Sou filho de servidores públicos e por
força do ofício de meus pais, morei em vários municípios do interior do
estado. Convivi com pessoas de diferentes regiões e contemplei o
sofrimento e a força do povo, desde a Baixada até o Gerais de Balsas. Vi
o choque dos búfalos com os pescadores e a devastação do cerrado pelas
plantações de soja. Caminhei a pé, subindo e descendo encostas, colhendo
frutos de temporada, como o cajuí, o piqui e o bacuri, quando não a
saborosa macaúba. Banhei nos rios, córregos e cachoeiras do sul do
Estado, como todo menino travesso do interior. Confesso que dei trabalho
para minha mãe. Andei misturado com pescadores, nadei nos rios Farinha e
Maravilha. Atravessava, a nado, ainda muito pequeno as correntezas
perigosas do rio Balsas. Convivi com pescadores, coletores e caçadores,
ouvindo suas histórias, muitas vezes ao lado de meu pai. Nos mercados do
interior vi a fartura e depois a fome chegar, com os grandes projetos
de desenvolvimento. Vi nos comentários dos trabalhadores rurais, o
fatídico desaparecimento do mutum, do jacu e da siriema, no cerrado. A
queda abrupta na população dos jaçanãs, dos frangos d’água e das
marrecas, nos campos alagados. Vi as cheias dos rios, as secas, os
atoleiros nas estradas, a chuva no telhado de palha, a canoa singrando
por entre mururus. Tudo isso como impressões fugidias que me marcaram na
juventude e constituem a minha identidade de maranhense. Depois, por
conversão do isolamento, fui estudante aplicado, mergulhado nos livros,
mas sem desgostar da realidade do meu estado, de onde nunca saí e onde
pretendo terminar meus dias. Gostei desde cedo de literatura, poesia e
história, e, até véspera do vestibular, tinha dúvidas qual profissão
seguir. Os estudos de história, ainda no colégio Marista, me aproximou
de Marx {filósofo e ativista alemão Karl Marx] e da teologia da
libertação e, depois do movimento estudantil e da militância de direitos
humanos.
A OPÇÃO PELO DIREITO
O curso de direito foi escolhido, pela
necessidade, sempre candente em mim, de influenciar a realidade que me
cerca. Entendo que fazer o curso de direito é muito diferente de
escolher a advocacia. Ainda nos primeiros períodos do curso de direitos
fui estagiário da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, entrando em
contato com a realidade agrária do Estado. Fiz minha formação no espaço
da assessoria jurídica popular, com forte viés marxista, de formação de
agentes populares, tendo como referencial a militância por direitos
humanos. Eu simplesmente me percebi advogado na intensidade dos dias e
anos, viajando por Comarcas do interior, defendendo comunidades
ameaçadas ou vítimas de despejos forçados, posseiros, sem-terras,
quilombolas, pescadores, extrativistas… O contato com essa realidade
refez antigos laços de infância, reelaborando uma nova leitura de
cenários, com a necessidade de sua transformação, a partir de uma visão
crítica do direito e da sociedade.
“Pensei que a morte de Décio pudesse representar um marco importante para uma verdadeira inflexão ética sobre as atividades de um punhado de jornalistas”
O ENCONTRO COM A POLÍTICA
O movimento estudantil estabeleceu a
ponte com a militância em direitos humanos e a militância em direitos
humanos estabeleceu a ponte com a política. Nunca fui candidato e nem
pretendi posto de comando em partidos políticos. A minha política sempre
foi promover a cidadania e garantir que as pessoas tenham seus direitos
respeitados. Nunca simpatizei com disputas pelo poder sem sentido. Para
mim, um horizonte de paz e solidariedade sempre é necessário e é assim
que imagino a nova política, como espaço de atuação de cidadãos de bem,
onde o exercício da verdade seja condição para troca de reflexões
apuradas sobre a realidade que se quer mudar.
A QUESTÃO RURAL NO MA
Pelo quarto ano consecutivo, somos o
Estado campeão em conflitos fundiários. O conflito fundiário significa
violência, exclusão social, despejo forçado, pessoas sem moradia e terra
para plantar. A reforma agrária deixou de ser bandeira para o campo
político da esquerda que tomou o poder no plano federal. A cada ano que
passa, o desempenho do governo federal míngua, em termos de
desapropriações. O ano de 2012 já era o pior ano da reforma agrária na
história do país. Pois bem, nesse ano de 2013, o governo Dilma conseguiu
ser pior ainda. Segundo a CPT, o Brasil, nesse ritmo, precisará de mais
quarenta anos para zerar o passivo de famílias acampadas. E eu digo que
nessa conta não incluímos os chamados povos e comunidades tradicionais,
como os posseiros, os quilombolas, os ribeirinhos e os extrativistas.
Mesmo no campo do crédito agrícola,
existe um tratamento muito desigual, em relação à agricultura familiar,
que recebe (via Pronaf) apenas 27, 5% do crédito rural, na década
petista, enquanto que o agronegócio tem seus 72, 5%. A Dilma afirmou que
era necessário estruturar primeiro os assentamentos, mas, no Maranhão,
eles passaram o ano inteiro sem assistência técnica, travados pela
burocracia do Incra. Já está bem claro que na coalização PT-PMDB o
agronegócio continua a ser o principal interlocutor.
De fato, continuam os trabalhadores
rurais no binômio Bolsa Família-Previdência, dois recursos que ainda são
os mais eficientes para sustentar a população do campo no Maranhão.
Isso é trágico porque não aponta para uma mudança de cultura, no sentido
de emancipar e inserir no mercado de trabalho a população ativa do
Estado. Somos o Estado com o maior número de beneficiários do
Bolsa-Família (um pouco mais da metade da população), mas isso não
impede que tenhamos os piores indicadores sociais.
Apesar da profunda transformação no
campo maranhense, sobretudo, na duas últimas décadas (onde praticamos
invertemos os índices de população rural x população urbana),
continuamos a ser o Estado-enigma de um campesinato resistente, que
constitui cerca de 1/3 da população economicamente ativa do Maranhão.
DIREITOS HUMANOS NO MA
É impossível festejar a realização dos
direitos humanos num Estado conflagrado por uma crise social e política
sem precedentes. Os indicadores sociais, nos mais diversos aspectos, dão
a entender que a classe política do estado faliu. Não há sinais de boa
governança e os dois principais paradigmas estão mergulhados no mesmo
referencial, que caminha para o abismo. A crise na segurança pública
atual é apenas a ponta do iceberg, que dormita suas bases no fundo de um
oceano escuro da inércia, da omissão do patrimonialismo e do despreparo
para a gestão pública. O mix ideológico é apenas o aperitivo
da comédia política que se estabeleceu, no desespero de interesses
econômicos que querem tomar de assalto o Estado, cujo exemplo mas
significativo é a presença da agiotagem no financiamento das campanhas
dos dois principais grupos em disputa.
Quando falamos em avanços em direitos
humanos no Maranhão, temos que nos referir a um novo nível de luta e de
organização do povo para reivindicar direitos e protestar contra as
injustiças, onde os levantes de junho se somaram às mobilizações
camponesas e indígenas e estudantis.
“O déficit de vagas foi agravado pela presença de organizações criminosas, produto da nova territorialização das quadrilhas advindas do sul e do sudeste, em busca de novas fronteiras criminais”
A OAB-MA
A atual gestão da OAB-MA representa um
avanço político e de gestão. É um espaço compartilhado por muitas visões
políticas e muitos perfis da advocacia, onde a preocupação com as lutas
cívicas tem preponderado. A população tem nos procurado exatamente por
esse potencial da entidade em formular demandas jurídico-políticas no
hiato da atuação de outras instituições. Acredito que enriquecemos o
cenário político atual e temos nos esforçado em agregar e somar esforços
para fazer da OAB-MA um espaço para a realização da cidadania do povo
maranhense, não apenas de defesa das prerrogativas dos advogados.
“GORILAS DIPLOMADOS”
Houve na verdade uma
falsa polêmica. Um segmento do jornalismo, ligado à oligarquia, tentou
pautar a expressão como dirigida a todos os jornalistas, num momento em
que o senador José Sarney escrevera um artigo atribuindo ao jornalista
morto [não sei o porquê, mas parece que Pedrosa não gosta muito de falar
ou escrever o nome Décio Sá] o título de “defensor da democracia”. Eu
me contrapus a isso porque luto historicamente contra o segmento da
mídia que naturaliza violações de direitos humanos e faz da verdade um
produto do mercado político, ao sabor das conveniências de cada facção.
De igual forma e intensidade, luto contra a advocacia sem ética e contra
qualquer segmento do meio social ou jurídico que viole direitos
humanos. Portanto, não se trata de uma guerra contra o jornalismo ou
contra os profissionais da comunicação, até porque tenho um bom
relacionamento com a esmagadora maioria dos profissionais dessa área e
entendo que a mídia tem um papel emancipador importante. Por isso mesmo,
no início do movimento, advoguei para rádios comunitárias e defendo a
democratização dos meios de comunicação.
Durante o percurso do inquérito [do
assassinato do jornalista Décio Sá], muita gente compreendeu o porquê da
polêmica e suas dimensões para o jornalismo no estado, sobretudo para a
atividade dos chamados blogueiros, os quais nem sempre são jornalistas.
Do outro lado, a pretexto de defender a memória de Décio {opa, citou o
nome do finado], na verdade, havia a necessidade de afirmar uma prática
jornalística, que considero questionável. A princípio, até pensei que a
morte dele pudesse representar um marco importante para uma verdadeira
inflexão ética sobre as atividades de um punhado desse profissionais no
Maranhão, mas a conjuntura está cada vez mais difícil.
A CRISE NA SEGURANÇA PÚBLICA E NOS PRESÍDIOS
Embora alguns segmentos do meio jurídico
resistam a uma avaliação generalizante, afirmo que a crise decorre
também de um sistema, cuja teia se engendra no elevado crescimento da
população carcerária no Brasil. Já somos a quarta população carcerária
do mundo. Ela também tem um pé no seletivismo do Direito Penal
brasileiro, historicamente direcionado para os mais pobres. O Maranhão
bateu um recorte perigoso, porque aprofundou a crise do instituto da
prisão com décadas de má gestão do sistema e de desarticulação das
instituições do sistema de justiça criminal. Há cinco anos, tínhamos um
percentual incrível de 70% de presos provisórios. Hoje, apesar de termos
melhorado o índice, ainda estamos entre os sete estados da Federação
com mais presos provisórios do que presos definitivos. Ao lado disso,
encarceramos principalmente os negros, os usuários de drogas e a ponta
de rama do narcotráfico.
Ao lado de tudo isso, temos a falência
da gestão, tendo como ponto culminante o atual governo. O déficit de
vagas foi agravado pela presença de organizações criminosas, produto da
nova territorialização das quadrilhas advindas do sul e do sudeste, em
busca de novas fronteiras criminais e da exportação de detentos para os
presídios federais de segurança máxima. O terreno fértil da concentração
de presos em São Luís, onde no interior e na capital passaram a
disputar espaços de poder nos presídios, somado à corrupção endêmica do
sistema, e a crise da segurança pública, produziu essa gigantesca bola
de neve.
SOLUÇÕES PARA SUPERAÇÃO DA CRISE
A curtíssimo prazo é necessário manter a
vigilância em cada um dos corredores dos presídios. Para fazer isso,
seria necessário mobilizar mais gente. As novas unidades prisionais
ainda vão demorar alguns meses. Isso significa que o governo pode
sangrar mais, juntamente com os detentos.
Os ataques contra o sistema de segurança
parece que continuarão até que se desbarate definitivamente a base
estrutural das quadrilhas, algo que poderia ter sido feito com
planejamento e estratégia, desde 2010, onde se constatou o início da
estruturação desses grupos.
O problema é que sem efetivo e com a
polícia investigativa fragilizada, tudo isso é mais difícil. A crise
desafia o adestramento de monitores e de um número diminuto de agentes
penitenciários, desmotivados, com um segmento mobilizado por uma
ferrenha oposição ao titular da pasta.
Imagino que a médio prazo ainda teremos
desgastes, com um processo de intervenção federal, uma denúncia perante a
OEA e até mesmo uma possibilidade de federalização dos crimes
caminhando junto com as notícias de mortes sistemáticas.
“Luis Fernando tem os latifundiários ao seu lado; Flávio tem o ex-presidente da mais violenta organização dos latifundiários contra os trabalhadores rurais”
PAPEL DO GOVERNO FEDERAL
Apesar de saber que nos últimos 20 anos a
população carcerária do país aumentou em 380%, e determos a maior taxa
de ocupação prisional (172%), dentre os países considerados emergente, o
governo federal não abriu a discussão, no sentido de repensar a
política prisional. Uma política de desencarceramento exige uma nova
política de combate às drogas, incluindo possibilidades de legalização,
redução de danos, reformas do ordenamento jurídico (cerca de 80% da
população carcerária enquadra-se nos crimes contra o patrimônio),
construção de pequenas unidades prisionais, descentralizadas dos grandes
centros urbanas e mais próximas das famílias dos apenados, uma nova
metodologia de ressocialização. O governo federal preferiu fazer mais do
mesmo: construir grandes unidades prisionais, adestrar agentes
penitenciários segundo a doutrina da militarização, promover
intervenções em presídios com a Força Nacional de Segurança.
O GOVERNO ROSEANA SARNEY
Acho que houve uma renúncia velada. Não
há vestígios de governabilidade, planejamento, coordenação, sincronia e
articulação de políticas públicas. E temos sinais visíveis de
turbulência no horizonte. A crise na segurança pública e nos presídios
vai se somar aos protestos contra a Copa do Mundo exatamente no ano
eleitoral. Atualmente, as chacinas do presídios romperam o tradicional
bloqueio da mídia e alcançaram a opinião pública mundial, revelando as
entranhas do domínio oligárquico. Fala-se em intervenção, mas ela já
está em andamento, com o anúncio de uma plano emergencial e de um comitê
gestor da crise, anunciado recentemente pelo ministro da Justiça, José
Eduardo Cardoso. Houve uma intervenção branca no governo do Maranhão.
ADMINISTRAÇÃO EDIVALDO JÚNIOR
Eu acho que ele é ainda o principal
entrave da candidatura de Flávio Dino. Edvaldo reproduz o mesmo
desempenho de João Castelo, com a agravante de ter que se aliar ao
ex-prefeito agora, depois de tantos ataques truculentos. Um ano é tempo
suficiente para um prefeito dizer a que veio. Ele tinha a desculpa de
dizer que encontrou a prefeitura arrasada, mas agora, andando junto com
Castelo, nem isso pode mais dizer. Para quem está no início do governo, a
crise pode anunciar um estrangulamento pior do que o final da gestão de
Castelo. Temos crise na saúde, crise na segurança (guardas municipais),
crise no serviço público, na educação e na mobilidade urbana. A cidade
continua esburacada, feia, mal cuidada e sem perspectiva de melhoras. O
GPS,como era previsto, notabilizou-se como uma piada de mau gosto.
FLÁVIO DINO X LUIS FERNANDO: DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS
Quando afirmo Flávio Dino e Luis
Fernando têm mais semelhanças do que diferenças é a partir do campo
político fundamental a que pertencem os dois: o campo PT-PMDB. Criticar o
governo Dilma e suas políticas neo-desenvolvimentistas, os desvios
éticos e o patrimonialismo significa criticar também Flávio Dino e Luis
Fernando. No plano federal eles estão juntos, compartilham da mesma
visão de governo. Essa divisão local, portanto, não é programática, é um
simulacro de disputa que vai dar na mesma coisa ganhe quem ganhar, com
pequenas variações em torno de uma nota só. A grande justificativa é a
deposição do grupo Sarney, mas boa parte dos aliados de Flávio vieram
desse campo, trazendo suas velhas práticas políticas e até seus
escândalos políticos e biográficos. Então, é difícil pôr em prática
qualquer projeto de mudança sério e efetivo com o grupo liderado pelo
PCdoB, onde figuram personalidades políticas carimbadas da vida política
do Estado. Na verdade, estamos diante de uma proposta de mudança, cujo
núcleo dirigente é até mais conservador do que o do período Jackson. E
sabemos das dificuldades do governo Jackson para levar a cabo as
transformações que o eleitorado de oposição exige aqui no Estado. Quando
afirmamos que têm mais semelhanças do que diferenças, bastar olhar quem
está em volta de cada um: Luis Fernando tem Aluísio Mendes; Flávio Dino
tem Raimundo Cutrim, ex-secretário do Roseana. Um tem Madeira, prefeito
tucano de Imperatriz; outro busca Castelo, o ex-prefeito tucano de São
Luís. Luis Fernando tem os latifundiários ao seu lado; Flávio tem o
ex-presidente da mais violenta organização dos latifundiários contra os
trabalhadores rurais, a UDR, que é Jorge Vieira [deputado federal Zé
Vieira}. Um tem Roberto Costa, outro tem Weverton Rocha, ambos
ex-lideranças da desacreditada UMES, dos escândalos das carteiras
estudantis… Um tem os madeireiros que devastam a amazônia maranhense,
outro tem um deputado que se contrapõe à demarcação das terras indígenas
e ataca a Reversa Biológica do Gurupi… Ambos são opção do financiamento
por parte de empresas envolvidas com denúncias de trabalho escravo e
por agiotas, e por aí vai. Independentemente da trajetória pessoal de
cada, os projetos políticos revelam muitas identidades e semelhanças.
A CANDIDATURA AO GOVERNO
Ressalto que não é um projeto pessoal.
Somos um campo político que não está representado nas opções colocadas
pelo cenário político atual no Maranhão. Somos uma alternativa que
decidiu refazer o espaço político da esquerda, com suas bandeiras
políticas históricas, mais atuais do que nunca agora. Em função da minha
trajetória, meu nome transitou com mais leveza entre as várias
correntes do partido e conseguimos uma inédita unidade interna. Como sou
oriundo de movimentos sociais, empresto a minha voz ao Psol para
fortalecer lutas importantes no sstado, traduzindo coerência entre
discurso e prática, coisa que não ocorre entre nossos prováveis
adversários.
PRINCIPAIS BANDEIRAS
Em primeiro lugar, afirmar
possibilidades de uma nova política, tendo como referenciais formas de
democracia direta é ética. Isso tem implicações e muitos desdobramentos
do ponto de vista concreto. Significa direcionar a máquina do Estado
para demandas populares a partir de decisões deliberadas em espaços
coletivos de decisões. É preciso pensar no planejamento regionalizado,
democrático e participativo. Isso precede o orçamento participativo,
bandeira que o PT abandonou. Depois, implementar a transparência,
publicizando contratos, ordens de serviços, empresas e prestadores de
serviços, valor de obras, número de cargos comissionados e seus
salários, criando colegiados deliberativos, a participação da sociedade
civil organizada.
Em segundo lugar criar, um eixo indutor e
transversal de políticas públicas para todas as secretarias. A
Secretaria de Direitos Humanos deixará de ter o tradicional tratamento
de menosprezo, característica dos governos dos principais grupos em
disputa. Será ela a responsável pelo monitoramento do planejamento e do
orçamento participativo, a partir da interlocução com os colegiados
regionais. O Plano Estadual de Direitos Humanos representará o documento
compromissário formal desse eixo indutor, entre governo e sociedade.
Dar exemplo de austeridade. Diminuir
gastos desnecessários com o luxo e a ostentação. Rever salários do
primeiro escalão, diminuir o excessivo número de cargos comissionados.
Aproximar o Estado dos movimentos sociais sem a cooptação de suas
entidades, fortalecendo parcerias envolvendo a promoção de direitos e o
resgate da cidadania, afirmando no espaço estatal a presença de gestores
qualificados para essa tarefa, com perfil especialmente técnico e
acadêmico.
Investir maciçamente na Educação. Rever a
política salarial de professores, reestruturar os colégios, emprestar
realidade aos projetos político-pedagógicos das escolas, garantir a
eleição direta para diretores, fazer da escola um espaço de articulação
de várias políticas para a juventude e para a comunidade escolar.
Garantir orçamento, até o limite do possível, para que isso ocorra,
invertendo prioridades.
“Não incorporamos qualquer discurso de terceira via, assentado no fundamentalismo religioso e no conservadorismo político. Nós seremos a voz da esquerda classista, profundamente compromissada com as lutas anticapitalistas”
ARCO DE ALIANÇAS
Nosso campo político está bem demarcado.
O Psol buscará o PCB e o PSTU, para compor a chapa majoritária,
partidos com os quais pretendemos compor uma frente de esquerda,
marxista e ecossocialista. Uma aliança composta por partidos pequenos,
com rica trajetória ideológica: o PCB e o PSTU. Não queremos alianças
para garantir tempo de TV e depois sucumbir em falsas promessas de
campanha, travadas pela presença de aliados com perfis ideológicos
contraditórios. Se queremos coerência entre discurso e prática não
podemos subir no palaque com latifundiários, acusados por corrupção e
improbidade administrativa, agiotas, praticantes de tortura, invasores
de unidades de conservação e de terras indígenas e pistoleiros.
Nossa aliança principal certamente
estará fora dos partidos institucionalizados: estudantes, sem-terras,
quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, indígenas, posseiros, vítimas
de violência, sindicatos e movimentos sociais.
Pode ser utópico, mas a utopia realmente
deve alimentar qualquer sonho de transformação da sociedade. É a partir
dela que as coisas mudam, porque se sai do lugar. Como diria Galeano, a
utopia serve para a gente caminhar.
E derrotar o grupo Sarney continua a ser
o desafio histórico do povo do Maranhão. Mas essa etapa exige superação
de práticas políticas, não apenas de nomes de pessoas.
Seria melhor para o eleitor se essas
diferenças não estivessem encobertas por um discurso político
ilusionista. Nós defendemos a reforma agrária, por isso entendemos que
não podemos ter relações com a bancada ruralista e nem com as lideranças
do latifúndio e do agronegócio. Como defendemos o financiamento público
de campanha e rejeitamos o financiamento de empreiteiras, grandes
empresas e do sistema financeiro, não podemos subir no palanque com
agiotas e seus congêneres. E estamos utilizando poucos exemplos dentre
as contradições visíveis desse campo político.
MENSAGEM AOS LEITORES
Eu queria deixar bem claro que nós
continuaremos a lutar pela construção de um campo da esquerda
programática no Estado. Nosso campo é independente da polarização
estabelecida e vai negar o caráter plebiscitário das próximas eleições,
assim como faremos isso no plano nacional, com o binômio PT-PSDB. No
entanto não incorporamos qualquer discurso de terceira via, assentado no
fundamentalismo religioso e no conservadorismo político. Nós seremos a
voz da esquerda classista, profundamente compromissada com as lutas
anticapitalistas, anti-racistas e ecossocialistas. Vamos reafirmar a
pertinência das tradicionais bandeiras da esquerda no Brasil e no mundo,
reafirmando a luta por igualdade de gênero, a liberdade de orientação
sexual, o ecumenismo religioso, o laicismo, a reforma agrária, a
titulação dos quilombos, a demarcação dos territórios indígenas e,
sobretudo a coerência e a ética na política. Travaremos uma luta
desigual, com os grandes interesses econômicos, sabemos disso, mas não
abriremos mãos de princípios que orientam nossas trajetórias como
cidadão de um Estado destruído por um modelo de política e de
desenvolvimento excludente. Nesse sentido, é que convido o leitor e a
leitora a somar conosco nessa caminhada, com Randolfe Rodrigues, nosso
candidato a presidente, com nossos companheiros que constroem no dia a
dia uma nova política, como o Jean Wyllys, o Chico Alencar, o Ivan
Valente e Luciana Genro. Venham para o Psol.
BNC Eleições 2014