Por Oswaldo Viviane, do Jornal Pequeno
Reportagem publicada na revista Veja
desta semana revela que a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney
Murad (PMDB) –, que renunciou ao cargo na quarta-feira (10) –, recebeu
R$ 900 mil do esquema de corrupção da Petrobras que tinha à frente o
doleiro Alberto Youssef, preso pela Operação Lava Jato, da Polícia
Federal, em 17 de março passado, no Hotel Luzeiros, em São Luís.
Segundo a Veja, o dinheiro foi entregue
em três parcelas de R$ 300 mil, por um dos “homens da mala”
(entregadores de dinheiro) de Youssef, Rafael Ângulo Lopez, apelidado de
“Véio”, para o ex-chefe da Casa Civil do governo maranhense João
Guilherme Abreu, homem de confiança de Roseana Sarney.
O dinheiro faria parte de um acordo,
firmado em setembro de 2013, entre o governo do Maranhão e Alberto
Youssef, para que Roseana liberasse o pagamento de um precatório (dívida
pública) de R$ 120 milhões beneficiando a empresa UTC-Constran.
O precatório se referia a um contrato,
feito na metade da década de 1980, para serviços de terraplenagem e
pavimentação da BR-230.
O governo do Maranhão teria exigido R$ 6
milhões em propina para pagar o precatório. Youssef receberia R$ 12
milhões das construtoras, caso o acordo fosse cumprido. Dias depois do
acordo, o precatório, que era o quinto na ordem de pagamentos de
precatórios do governo maranhense, “furou a fila” e foi liberado em 24
parcelas.
Esse caso do precatório da UTC-Constran e
da suposta propina paga a Roseana já havia aparecido no começo da
Operação Lava Jato, que investiga o escândalo do “petrolão” – pagamento
de propinas a diretores da Petrobras e políticos, envolvendo doleiros.
Na ocasião, em agosto passado, Roseana
Sarney e o mesmo João Abreu também foram citados pela contadora do
doleiro Alberto Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza, em depoimentos à
Polícia Federal e à CPMI da Petrobras.
Poza afirmou que uma das remessas da
propina de R$ 6 milhões a Roseana foi levada, também ao Palácio dos
Leões, em São Luís, por outro “mala” de Alberto Youssef, segundo a
Polícia Federal: Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades
Mário Negromonte. O valor foi de R$ 300 mil.
A pessoa que recebeu o dinheiro teria
reclamado da quantia e consultado a governadora Roseana para saber se o
montante deveria ser recebido.
“Adarico esteve no meu escritório depois
da prisão do Alberto. Ele disse que foi ao Maranhão levar o dinheiro e
que a pessoa afirmou que era pouco. Ela então teria entrado em contato
com a governadora para saber se ela concordaria em receber os R$ 300
mil, e ela teria concordado”, disse Meire Poza.
Roseana Sarney ainda é citada como
beneficiária de propina no depoimento do ex-diretor de Abastecimento da
Petrobras, Paulo Roberto Costa, que foi preso na “Lava Jato” e fez
acordo de delação premiada com a Justiça.
Na época das denúncias, Roseana Sarney se disse “indignada” e negou qualquer envolvimento com recebimento de propinas.
Também agora, por intermédio de sua
assessoria, Roseana Sarney negou à Veja qualquer ligação com o esquema
de propinas abrigado na Petrobras. Ela informou, ainda, que entrou em
contato com João Abreu e que este também “negou veementemente que
tivesse recebido dinheiro do doleiro Youssef”.
Veja dois dos destinatários da propina que Rafael Ângulo Lopez transportava.
Outros ‘clientes ilustres’
– Além de Roseana Sarney, segundo a Veja, Rafael Ângulo Lopez – que,
ainda de acordo com a revista, costumava transportar grandes “boladas”
enroladas no próprio corpo e, por ter dupla cidadania, brasileira e
espanhola, usava, nos aeroportos, o passaporte europeu, para não
despertar suspeitas – tinha outros clientes ilustres.
A Veja apontou que Lopez entregou, em
2012, duas malas, que carregavam um total de R$ 500 mil, ao tesoureiro
do PT, João Vaccari Neto. Ele teve nessa “missão”, segundo a publicação,
a companhia de José Alberto Piva Campana, executivo da Toshiba
Infraestrutura.
Outro nome ilustre que teria recebido
visita de Ângulo Lopez foi o ex-presidente da República Fernando Collor
de Mello (PTB-AL), afirmou a revista. O atual senador por Alagoas teria
sido beneficiado com R$ 50 mil, recebidos em seu apartamento na Rua dos
Ingleses, na capital paulista.
O “homem da mala” de Alberto Youssef
ainda teria levado R$ 150 mil, mandados pelo doleiro, a Mário Negromonte
(PP), ministro das Cidades no primeiro ano do governo de Dilma Rousseff
e irmão do também “mula” de Youssef Adarico Negromonte.
Já o deputado federal Luiz Argôlo
(SD-BA) teria recebido R$ 600 mil das mãos de Lopez, e outro deputado,
Nelson Meurer (PP-PR), teria sido beneficiado com R$ 200 mil, revela a
Veja.
Para completar a lista, aponta a Veja,
André Vargas (PT), que teve o cargo de deputado federal cassado na
última semana, teria levado R$ 150 mil de propina.
De acordo com a revista, Rafael Ângulo
Lopez – condenado na Operação Curaçao, da PF (que em 2009 apurou crimes
de evasão de divisas e lavagem de dinheiro) e investigado no mensalão –
já se ofereceu para fazer acordo de delação premiada. Para a Veja,
Ângulo Lopez, que “tinha uma característica que poucos sabiam, a
organização, pois anotava e guardava comprovantes de todas as suas
operações clandestinas”, é considerado, por isso, uma testemunha capaz
de “ajudar a fisgar em definitivo alguns figurões envolvidos no
escândalo da Petrobras”.
Veja a matéria da revista Veja:
BNC Política