Enfrentando oposição crescente no Congresso a seu pedido de
autorização para atacar a Síria, o presidente Barack Obama decidiu fazer
um pronunciamento à nação na terça-feira, na tentativa de convencer uma
cética opinião pública da necessidade de retaliar o regime de Bashar
Assad, a quem atribuiu o uso de armas químicas.
A resistência entre os congressistas à pretensão de Obama aumentou
nos últimos dias, com muitos deles sendo pressionados por suas bases
eleitorais a votar contra o uso de força militar. Se a votação tivesse
ocorrido nesta sexta-feira, o presidente seria provavelmente derrotado
na Câmara dos Deputados, onde o opositor Partido Republicano detém
maioria.
Segundo levantamento do Washington Post, 223 deputados
estavam na tarde desta sexta-feira no grupo que vai votar "não" ou está
"inclinado" a votar não. Isso supera os 217 votos necessários para a
aprovação da resolução.
A situação é mais favorável a Obama no Senado, onde os democratas têm
maioria. Mas o placar de 10 a 7 com o qual a Comissão de Relações
Exteriores deu sinal verde à ação mostra que Obama enfrentará
resistências no plenário do Senado, na próxima semana.
O presidente e seus aliados no Congresso esperam reverter a onda
negativa no Congresso a partir de segunda-feira, quando os deputados
voltam a Washington com o fim do recesso parlamentar. Apesar de muitos
já estarem na capital, a maioria permanece em suas bases eleitorais.
Quando voltarem, serão alvo da operação corpo a corpo comandada pelo
governo e seus líderes no Congresso para tentar conquistar votos.
A ofensiva terá o apoio da Aipac, o grupo de lobby pró-Israel que tem
enorme influência no Congresso. Segundo reportagem veiculada pelo site Politico -
dedicado à cobertura do poder em Washington -, cerca de 250 líderes
judaicos e ativistas da Aipac estarão no Capitólio na próxima semana
para pressionar deputados e senadores a aprovar o ataque à Síria.
O principal argumento será o de que a inação dos EUA encorajaria o Irã em sua aspiração de ter armas nucleares.
Na terça-feira, Obama fará seu pronunciamento no Salão Oval da Casa
Branca, um gesto solene usado por presidentes americanos em momentos
graves. "Eu farei a melhor defesa que puder para o povo americano, bem
como para a comunidade internacional, da adoção de uma ação necessária e
apropriada", declarou Obama.
Quanto à conquista de votos no Congresso, o presidente disse que
estava consciente das dificuldades quando anunciou a decisão de obter
aprovação dos parlamentares para agir, há uma semana. Indagado duas
vezes sobre se atacaria a Síria mesmo na hipótese de o Congresso negar a
autorização, Obama foi evasivo e disse que não daria uma resposta
direta. Apesar de acreditar que tem o poder de dar a ordem para um
eventual ataque sem o aval dos parlamentares, ele disse que os EUA serão
"mais fortes" se o presidente tiver apoio do Congresso.
Levantamento divulgado nesta sexta-feira indica que Obama não terá
tarefa fácil na tentativa de convencer a opinião pública. A pesquisa
Transatlantic Trends 2013 mostrou que 62% dos americanos e 72% dos
europeus acreditam que seus países devem ficar fora do conflito na
Síria.
Isso é que os parlamentares estão ouvindo de eleitores nos Estados.
As dificuldades que os congressistas estão enfrentando ficaram evidentes
no encontro que o senador republicano John McCain teve com integrantes
de sua base eleitoral no Arizona na quinta-feira. A maioria dos
participantes criticou a ação na Síria, da qual McCain é um dos maiores
defensores.
"Nós não mandamos você para fazer guerra por nós. Nós o mandamos para
acabar com a guerra", disse um eleitor, sob aplauso dos demais. Outro
se pôs na frente do senador com um cartaz no qual estava escrito "Não
bombardeiem a Síria".
Com eleições parlamentares no próximo ano, muitos deputados estarão
mais sensíveis à pressão das bases do que aos apelos de Obama.
BNC Mundo