Como diz a manchete de primeira página desta nossa edição, no Maranhão, os homens e mulheres do campo estão “lutando para viver na terra e marcados para morrer!”. Hoje, apesar dos assassinatos, das organizações sociais invadidas e de novas tragédias anunciadas, este mês de agosto está sendo marcado por mais um acampamento de trabalhadores rurais em São Luís.
Eles vêm para a capital, de vários pontos do Estado, mais uma vez exigir reforma agrária, regularização das terras, educação de qualidade, saúde, moradia, enfim, políticas públicas que promovam a dignidade de suas comunidades. Mas, entre as pautas e denúncias trazidas pelos lavradores, chama atenção a questão da violência e das ameaças ocorridas e das execuções anunciadas. Na segunda década do século XXI, não é possível encarar como coisa normal a terrível impunidade, o descaso e a conivência do poder no Maranhão, capitaneado pelo governo de Roseana Sarney e tendo setores do Poder Judiciário como uma espécie de capataz.
Em junho, há pouco mais de dois meses, também em São Luís, teve repercussão a realização de um acampamento de lavradores quilombolas. Eles ocuparam a Praça Pedro II - entre o Palácio do Governo e a sede do Judiciário - e depois o INCRA, acabando em uma greve de fome, fato que resultou na vinda de três ministras do governo Dilma Rousseff ao Maranhão. Encerrado o acampamento, a sede da Comissão Pastoral da Terra (CPT), no centro de São Luís, foi imediatamente invadida em uma madrugada.
No mês seguinte, foi a vez do escritório da mesma CPT, em Pinheiro, também sofrer uma invasão. No primeiro caso, reviraram as gavetas, mas nada levaram. Em Pinheiro, roubaram um computador. A CPT foi uma das articuladoras do acampamento de junho. Na ocasião, os acampados denunciaram a existência de quase 80 pessoas ameaçadas por latifundiários do Maranhão. São casos espalhados em mais de 30 municípios do Estado.
Feita a denúncia, o clima continua tenso. No mês passado, no dia 25 de julho, uma testemunha ouviu, em frente ao Fórum da cidade de Cantanhêde, um fazendeiro deixar claro que estava disposto a matar um padre ligado à CPT (Inaldo Serejo) e um advogado ligado à Comissão de Direitos Humanos OAB do Maranhão (Diogo Cabral). O caso de Cantanhêde envolve 1089 hectares de terra, onde vivem inúmeras famílias de lavradores quilombolas. É mais um local do Maranhão, onde latifundiários, sob a proteção explícita do grupo Sarney e de setores do Poder Judiciário, insistem em querer expulsar os trabalhadores rurais da terra.
Em entrevista concedida este mês para o jornal Vias de Fato (leiam nas páginas 5, 6 e 7), o secretário executivo da Cáritas Brasileira no Maranhão, Ricarte Almeida Santos, disse que “este tipo de ação, intimidatória, violenta, que os companheiros da CPT experimentaram só é possível em um estado onde o governo tem toda essa permissividade para esse tipo de ação, onde os latifundiários se sentem acolhidos pelos representantes públicos, pela cegueira do Judiciário, pela inação do Ministério Público e pela conivência dos representantes do Executivo”.
No ano passado, os representantes do latifúndio mataram os lavradores Elias Ferreiras, em São Mateus, Flaviano Pinto Neto, em São Vicente Férrer, Raimundo Pereira, em Codó e Francisco Ribeiro, em Santa Luzia do Tide. Em Centro do Guilherme, madeireiros assassinaram o índio HuninetKa’apor. E a lista de ameaçados está aí, é publica! Já foi divulgada e repassada para as ditas autoridades!
Por tudo isso, a denúncia e o debate em torno deste tema precisam ser feitos, repetidos e ampliados. A ditadura da mídia (controlada pelo grupo Sarney e/ou pagos pelo governo Roseana) precisa ser cada vez mais furada. É sabido por todos que diante de um clima como esse, os grandes e tradicionais veículos de comunicação do Maranhão (TVs, rádios, jornais diários, sites etc.) fingem que o assunto não existe. Para eles, morte de lavrador é assunto para estatísticos. E se puderem dizer que a morte se deu por outras razões, vão dizer. Foi assim com Elias Ferreira, em São Mateus.
Atualmente, praticamente todos os dias, circulam informações, via internet, dando conta de conflitos sociais no Maranhão, ocasionados por disputas em torno da terra. E hoje, apesar da truculência dos seus oponentes, os camponeses mais uma vez dão sinais de que vão resistir. O novo acampamento em São Luís deixa explícito que a corda está e vai continuar esticada. Registramos nesta matéria, o que têm a dizer, diferentes figuras da sociedade civil
Fonte: Vias de Fato
BNC Marnhão