9 de janeiro de 2014

O CRIME NO MARANHÃO MUDOU: NOVOS ATORES ENTRARAM EM CENA

  Por Ed Wilson

São Luis - É simples entender a anatomia do crime no Maranhão.

O maior problema da violência já foi dito por um importante político da oligarquia Sarney: o crime organizado está instalado nos três poderes do estado.

Todos os dias o Maranhão é violentado pela corrupção que sustenta uma elite parasita no poder público.

Esta casta não vive em São Luis. Tem apartamentos em New York ou Paris e se diverte em Las Vegas. O Maranhão é o lugar do saque.

Para essa gente, pouco importa se 100 ou 200 presos terão as cabeças cortadas em Pedrinhas.

Quanto mais violência e caos, melhor para o governo fazer as dispensas de licitação na área de segurança pública, onde operam os interesses privados.

O diagnóstico sobre a violência está feito. O sistema de segurança sabe quais são as providências necessárias, mas o governo Roseana Sarney (PMDB) não está interessado em resolver a situação.

Medo é dinheiro e violência dá lucro. Os dividendos são colhidos nos contratos milionários celebrados entre o governo e as empresas que prestam serviço no sistema penitenciário (reveja AQUI)

CRIMES DE ÉPOCA

É nesse contexto que o crime organizado se reestruturou no Maranhão, dentro e fora dos presídios, conjugando barbárie e negócios. Vejamos:

Ao longo dos últimos 50 anos, o modus operandi do crime passou por várias etapas, cada uma delas correspondendo aos interesses políticos predominantes em determinados momentos.

PISTOLAGEM

Nas décadas de 1970 a 1990 o foco da criminalidade estava concentrado no campo, em decorrência da Lei de Terras que proporcionou a expansão do latifúndio e, consequentemente, a necessidade de jagunços para expulsar do campo os trabalhadores rurais.

O Maranhão viveu o auge da pistolagem. Era preciso matar os camponeses para garantir a posse das terras aos latifundiários.

ROUBO DE CARGAS

A segunda etapa concentrou-se no roubo de cargas. Ao investigar a teia criminosa, o delegado Stênio Mendonça foi assassinado na avenida Litorânea, em 1997.

O desdobramento da morte de Stenio Mendonça, com repercussão nacional, deflagrou a CPI do Crime Organizado, resultando na prisão de parlamentares e policiais, com destaque para os deputados José Gerardo e Chico Caíca e o delegado Luis Moura.

Importante lembrar: a CPI do Crime Organizado teve apoio do aparelho policial, então liderado pelo secretário de Segurança Raimundo Cutrim, homem de confiança da governadora Roseana Sarney (PFL à época).

Roseana pavimentava o caminho para uma candidatura presidencial e precisava mostrar ao Brasil que o Maranhão era um estado livre do crime.

A prisão dos deputados e policiais confirmava a tese de que o crime organizado estava instalado nos três poderes do estado.

ASSALTOS A BANCO

Desmontada a quadrilha de cargas, incrementou-se o roubo aos bancos. O Sindicato dos Bancários sempre monitorou o crescimento dos assaltos em períodos pré-eleitorais, levantando a hipótese de que o dinheiro servia para alimentar candidaturas e outros negócios.

Os assaltos a banco, pelo grau de inteligência e logística, permanecem no topo do crime.

Ladrão de banco é respeitado na hierarquia dos presídios e lidera parte das organizações criminosas.

AGIOTAGEM

Na etapa mais recente, o Maranhão passou a ser o eldorado da agiotagem, através de quadrilhas que dominam as prefeituras.

O Banco do Estado do Maranhão (BEM), que deveria ser o indutor do desenvolvimento regional, da geração de emprego e renda, nunca foi utilizado para esta finalidade.

O BEM acabou sucateado e privatizado. No lugar do dinheiro oficial, entrou no circuito o capital paralelo da agiotagem que passou a controlar obras e serviços nos municípios em troca do financiamento das campanhas dos prefeitos.

No conflito dos negócios da agiotagem, o jornalista Décio Sá foi assassinado, também na avenida Litorânea, em 2012, quinze anos após a execução do delegado Stênio Mendonça.

A execução de Décio Sá também reforça a tese de que o crime organizado atravessa o interesse público no Maranhão.

TRÁFICO DE DROGAS

A etapa mais organizada do crime é o tráfico de drogas, principalmente aquela parte controlada por empresários que nunca fumaram um cigarro na vida e são pessoas de bom convívio social.

Para estes, o tráfico é um empreendimento sofisticado.

Nas investigações, não há evidências de ligações diretas entre traficantes e vereadores, deputados, gestores, juízes ou desembargadores.

Houve apenas a notícia de que um traficante renomado gostaria de vir hospedar-se em um presídio do Maranhão, onde teria ligações com um desembargador.

COMANDO DE PEDRINHAS

Presos degolados em Pedrinhas não é novidade. Na rebelião de 2010 foram assassinados 18 detentos, três deles decapitados. Sempre houve essa barbárie no Maranhão.

Novidade é a disputa pelo controle do sistema penitenciário, agravado com o ingresso da organização "Bonde dos 40" no tráfico de drogas, tomando territórios anteriormente controlados pelo PCM (Primeiro Comando do Maranhão).

O crack, controlado pelo "Bonde dos 40", alastrou-se rapidamente e multiplicou os negócios.

Há também outros complicadores. Na interpretação do PCM, o Bonde desqualificou o crime, praticando estupros, pequenos roubos e outros delitos que depreciam o sentido de organização criminosa.

Ao “tocar o terror” na cidade, o Bonde atrai muita polícia, coisa que traficante sofisticado detesta.

Foi o ingresso da concorrência “desqualificada” e “pobre” do Bonde dos 40 que incendiou a cena do crime no Maranhão.


E parece que o governo perdeu o controle da situação... 

Enquanto isso, o grande prejudicado é o cidadão maranhense.
 
BNC Segurança

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