Fonte: Estadão
Relatório da Operação Lava Jato mostra
encontro do doleiro Alberto Youssef com Marco Ziegert, assessor especial
da Casa Civil de Roseana Sarney (PMDB)
Fausto Macedo e Valmar Hupsel Filho
Relatório da Polícia Federal, anexado aos autos da Operação Lava
Jato, mostra os movimentos do doleiro Alberto Youssef no Hotel Luzeiro,
em São Luiz do Maranhão, onde teria sido realizado pagamento de propinas
a servidores de confiança do governo Roseana Sarney. O documento,
anexado aos autos da Lava Jato, é ilustrado com 19 imagens captadas do
circuito de segurança do hotel.
A sequência de cenas gravadas pelo monitoramento do hotel reforça a suspeita da PF sobre pagamento de propinas no escândalo de um precatório de R$ 120 milhões do governo maranhense.
Depoimento da contadora do doleiro, Meire Bonfim da Silva Poza,
datado de 7 de agosto, indica que para liberar o pagamento do
superprecatório, na frente de outros títulos dessa natureza, assessores
de confiança de Roseana teriam cobrado propina de R$ 6 milhões.
O precatório era relativo a serviços de terraplanagem e pavimentação
da BR-230. Era o quinto na ordem cronológica, mas de acordo com a
contadora, após o pagamento da propina a construtora “furou a fila” e o
pagamento foi liberado parceladamente.
As imagens do circuito fechado do Hotel Luzeiro mostram Youssef e
Marco Ziegert chegando juntos na madrugada de 17 de março – dia em que o
doleiro foi preso.
Eles se hospedaram em andares diferentes, Youssef no 7.º andar e Ziegert, no 13.º.
“Observa-se nas filmagens que Alberto Youssef chega ao
estabelecimento portando duas malas pretas idênticas e o sr. Marco
Ziegert com uma mala de outra tonalidade, além de uma caixa sob um dos
braços”, diz o relatório da PF.
Segundo os investigadores, “por volta de 3h29, o sr. Youssef dirige-se ao 13.º andar com uma de suas malas pretas e retorna para o seu quarto no 7.º andar sem a mesma, dando a entender que deixou a referida mala no quarto do sr. Marco Ziegert”.
Às 10h47, Ziegert saiu do hotel com a “referida mala preta deixada
por Alberto Youssef e embarca em um táxi na portaria Hotel Luzeiro,
tomando rumo ignorado”.
“Marco Ziegert retornou ao hotel por volta das 15h30 já sem a mala de
Alberto Youssef”, assinala o documento da PF. Em seguida, aponta o
relatório, Ziegert desce para o térreo e entregou ao recepcionista uma
caixa que portava quando entrou pela primeira vez no hotel.
Os federais conversaram com funcionários do hotel e souberam que
Marco Ziegert solicitou ao recepcionista que entregasse a mala a Milton
Braga Durans , “assessor especial III, símbolo DANS-3 da Casa Civil do
Estado do Maranhão nomeado em 1.º de agosto de 2013″.
Após alguns dias, segundo apurou a PF, Durans esteve no hotel e pegou
a caixa deixada por Marco Ziegert. Os investigadores suspeitam que na
caixa havia R$ 300 mil, parcela da propina que teria sido paga a agentes
públicos do governo Roseana Sarney para liberar o precatório de R$ 120
milhões.
Em seu depoimento, a contadora Meire Poza disse que se reuniu com um
funcionário do governo do Maranhão, Adarico Negromonte, irmão do
deputado Mário Negromonte (PP/BA), para entregar R$ 300 mil que “seriam
parte do acordo”. Ela declarou que o assessor lhe disse que teria que
consultar a governadora porque o valor “era pouco”.
Quando o depoimento da contadora foi divulgado, na primeira semana de
agosto, a assessoria de Roseana emitiu nota de esclarecimento. “A
respeito da referência feita em depoimento à Polícia Federal da sra.
Meire Poza, sobre a afirmação do senhor Adarico Negromonte, pessoa a
quem não conheço, só pode receber de minha parte indignação e repúdio
pela maneira desrespeitosa e infame de tal hipótese”, declarou Roseana.
Segundo o texto, trata-se de uma ação de indenização proposta por uma
empreiteira contra o Estado julgada procedente pela Justiça do Maranhão
em tribunais superiores. “O governo do Estado cumpriu o decidido pela
Justiça transitado em julgado de acordo com a lei, sem nenhum
favorecimento.”
Segundo o governo, pagar a empresa de forma parcelada permitiu
alongar o perfil da dívida do Estado, tratando-se do primeiro precatório
da fila fornecida pelo Tribunal de Justiça do Maranhão.
Marco Zeigert e Milton Durans não foram localizados pela reportagem.
VEJA O RELATÓRIO DA POLÍCIA FEDERAL COM AS 19 IMAGENS DO CIRCUITO DE TV DO HOTEL LUZEIRO: