6 de novembro de 2014

Colunista da Folha diz que Flávio Dino mostrou o caminho para a crise política do País

Comunista mostra o caminho
Sérgio Malbergier
São Paulo - A polarização e o final eletrizante da última eleição despertaram um pouco o gigante, como as passeatas de junho de 2013. Mais estão mais interessados na política, embora não necessariamente representados ou engajados.
A eleição intensificou as diferenças, o que foi bom despertador, mas não será bom guia. Os candidatos presidenciais do PT e do PSDB tiveram dezenas de milhões de votos mais por serem de centro do que de direita ou de esquerda.
Responder à eleição dura que tivemos com governo duro é a receita do mau caminho cujo final a vizinhança sugere catastrófico tanto política quanto economicamente. Dilma sabe disso, e tem falado em entendimento e diálogo.
 Flávio Dino durante entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues
Flávio Dino durante entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues
Quem aponta caminho é o primeiro governador comunista eleito no Maranhão, Flávio Dino. Muito lúcido, ele prometeu uma revolução burguesa no seu Estado, defendeu a economia de mercado, apelou aos capitalistas que invistam na região e ainda pediu entendimento PT-PSDB em torno de uma agenda comum facilmente identificável.
O neocomunista sintomaticamente ganhou a eleição contra o clã Sarney, representante do atraso do status quo e aliado importante do PT. Entre várias pérolas em entrevista ao Fernando Rodrigues, Dino disparou: “Quando me perguntavam se havia medo do comunismo [no Maranhão], eu dizia que o sistema que lá estava tinha mais medo do capitalismo, porque era a concorrência, o livre mercado, o fim ao privilégio de castas ou de estamentos que explicava esse poder absoluto que eles ostentavam”.
Como Deng Xiaoping e Lula, Dino viu a luz. Só o capitalismo concorrencial salva. É inescapável para quem quer promover o desenvolvimento do Maranhão pós-Sarney à China.
Outra estrela das eleições deste ano, o petista Fernando Pimentel, também é dessa esquerda muito mais centro que esquerda. Como outro petista emergente, Jaques Wagner.
Depois da névoa eleitoral e da grita pós-eleitoral, é possível antever um governo federal muito mais moderado do que sua campanha política. E isso não é traição eleitoral, mas compromisso com o país.
Há nas bordas do petismo e da oposição um clima ainda bélico e adrenalizado que demoniza o outro lado e não representa o desejo das dezenas de milhões de votos distribuídos quase igualmente entre PT e PSDB. A ocasião faz o líder, e Dilma tem uma oportunidade de ouro de ser estadista.
É preciso, para além da gritaria, ouvir a voz da massa silenciosa que quer, em todas as esferas, gestão pública mais eficiente, mais honesta, que entregue serviços e instituições de qualidade e mais ajude que atrapalhe o desenvolvimento. A guerra política não deve guiar o país, é o país que deve guiar, cobrar e transformar a política.
BNC Política

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