“Esse horizonte usa um tom
de paz”, disse Manoel de Barros, em sua obra “O livro das ignorãças”, ao
discorrer poeticamente sobre os fins de tarde no Pantanal. Tomo emprestadas as
palavras do poeta para também falar sobre o entardecer da minha sempiterna Cururupu,
cenário de tantas boas lembranças de minha infância, e sobre a paisagem da
Baixada Maranhense, que não me sai da memória.
Trago à baila esse assunto
porque estive em Pinheiro, no início da semana passada, participando da
cerimônia de instalação da primeira turma de licenciatura em Educação Física da
Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no Campus instalado naquela cidade,
evento este concorridíssimo e que contou com a presença de autoridades
municipais, técnicos administrativos, professores e alunos. Àquela ocasião,
quarenta estudantes deram o primeiro passo rumo ao tão sonhado diploma de
Educação Física. Além da motivação dos estudantes, o curso também inicia com um
excelente corpo docente, de vasta experiência profissional. É nossa intenção, com
a aprovação do conselho universitário, transformar o Campus de Pinheiro no
terceiro centro de ensino dessa Instituição no continente.
A cada ida àquela região,
volto com o ânimo renovado por constatar a vontade e a determinação de seus
habitantes para o desenvolvimento. Nesse contexto, além das anteriormente
referidas, outras iniciativas dignas de elogio estão sendo realizadas, a
exemplo do recém-instalado Fórum da Baixada Maranhense. Aqui destaco o papel do
advogado Flávio Braga, um dos principais defensores desse projeto.
A Baixada Maranhense
compreende 21 municípios, que se distribuem em quase dezoito mil quilômetros
quadrados na região noroeste do Estado. Com uma população de mais de 518 mil
habitantes (dados de 2006), tem sua economia ancorada no extrativismo,
agricultura de subsistência, pesca e pecuária cuja expressão principal é a
bubalinocultura, visto que estes animais se adaptam perfeitamente às condições
de grande parte da região, caracterizada por campos inundáveis.
Mas, infelizmente, a
economia baseada na exploração de atividades do campo e com escassa aplicação
de tecnologia resulta em baixos índices de produtividade e coopera para manter
o quadro de pobreza geral, que se expressaem insatisfatórios índices de
progresso. Como exemplo disso, temos a cidade de Pinheiro, a principal da
microrregião, que exemplifica com bastante acuidade a condição que se perpetua
ao longo de décadas. Nessa cidade, o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal), que avalia a qualidade de vida, como a longevidade, renda e
educação da população, é de apenas 0,637, o que representa um crescimento
médio. Sobre isso, a dinâmica é a seguinte: quanto mais próximo de 1, maior o
desenvolvimento. Registre-se que outras cidades do entorno possuem dados
semelhantes. O quadro só não é mais desolador por causa do comprometimento de
alguns poucos governantes da região que se esforçam para debelar os inúmeros
problemas e desafios hercúleos, embalados pela determinação de um povo honesto,
cordato e trabalhador.
No entanto, nem tudo é
desanimador, pois há na região uma rica diversidade da fauna e flora e o maior
conjunto de bacias lacustres do Nordeste. A transição entre o cerrado e a
floresta amazônica criou um lugar único de campos dominados pelas águas,
particularmente no período chuvoso, que transforma a região com seus rios e
lagos num pantanal tão grandioso e exuberante quanto o equivalente mais famoso
no Mato Grosso. Aquele cenário que não deixa a desejar a nenhum cartão postal
do mundo. Volto a Manoel de Barros, no mesmo livro já citado, ao falar de seu
pantanal, de forma modesta: “o mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um
pouco de árvores”.
A Baixada Maranhense tem
vocação natural para a grandeza. Por isso mesmo, engajada no desafio de tornar
essa região ainda melhor e mais próspera, a Universidade Federal do Maranhão
(já tivemos a oportunidade de escrever sobre isso noutro momento) faz sua
parte: iniciou o que considero um novo ciclo de crescimento. O campus de
Pinheiro, que antes funcionava com os cursos interdisciplinares em ciências
humanas (com habilitação em História ou Filosofia) e naturais (com habilitação
em Biologia), conta hoje com os de Medicina e Enfermagem e, mais recentemente,
com o curso de Educação Física, que teve sua aula inaugural no dia 16
(segunda-feira). Essas três últimas graduações atenderão a uma demanda
crescente de saúde de qualidade, o que propiciará um efeito catalisador à
formação dos profissionais e à produção de conhecimento. E, ainda este ano, no
segundo semestre, teremos a honra de iniciar o curso de Engenharia de Pesca em
Cururupu, cidade cuja economia está intimamente ligada à pesca marítima.
“Deus governa grandezas”,
diz Guimarães Rosa pela boca de Riobaldo em “Grande sertão veredas”. O
potencial da Baixada Maranhense, somado à fé e à coragem de seu povo, haverá de
legar às próximas gerações uma herança de grandes conquistas, pois as
esperanças mais incompatíveis podem conviver sem dificuldades, alerta Jorge
Luís Borges. Que essas ações em favor daquela região encontrem corações maduros
para que as sementes do crescimento e da prosperidade possam gerar bons frutos.
Natalino Salgado, doutor em
Nefrologia, reitor da UFMA, membro do IHGM, da ACM, AMC e AML.
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