Grande Ilha - Após a revelação de um vídeo em que procuradores parecem desdenhar da ideia de uma acareação, o Ministério Público Federal marcou para o próximo dia 22 um interrogatório conjunto entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa para esclarecer pontos divergentes nas declarações que prestaram em acordos de delação que ambos fizeram na Lava Jato.
Os pontos de discórdia entre os dois envolvem seis casos, entre os quais os do ex-ministro Antônio Palocci e do senador Edson Lobão (PMDB-MA) e recursos para campanhas de 2010 (leia quadro).
Paulo Roberto disse ter autorizado Youssef a repassar R$ 2 milhões para a campanha de 2010 de Dilma Rousseff (PT), que teriam sido pedidos por Palocci.
Youssef, por sua vez, disse que não fez essa operação nem foi procurado por Palocci. O advogado do petista, José Roberto Batochio, confirma essa versão e diz que seu cliente jamais viu o doleiro.
No caso de Lobão, Paulo Roberto afirmou que ele pediu R$ 2 milhões para a campanha de Roseana Sarney ao governo do Maranhão e que a entrega do montante foi providenciada por Youssef.
O doleiro negou ter feito a operação para Roseana e levantou a hipótese de que Paulo Roberto pode ter confundido ele com outro doleiro.
Se ficar provado que um dos dois mentiu, eles podem perder benefícios, como o direito a prisão domiciliar, mas é improvável que uma divergência pontual anule o acordo de delação inteiro.
A acareação vai ocorrer em Curitiba, onde o doleiro está preso desde 17 de março do ano passado, quando foi deflagrada a Operação Lava Jato, que apura pagamento de propina em contratos da Petrobras. O inquérito sobre Lobão corre no Supremo, porque ele é senador e só pode ser investigado pela instância máxima da Justiça, enquanto a apuração sobre Palocci está em Curitiba.
O advogado de Roseana e Lobão, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, nega as acusações contra os dois e tem repetido que as delações não são confiáveis.
Brasília -A
cúpula Sarneisista que manda e desmanda no PMDB do Maranhão ficou sem
espaço nesse segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Ela anunciou
nesta terça-feira, dia 23, o nome de 13 ministros. Dos novos integrantes
do primeiro escalão do governo, nenhum é maranhense.
Apesar
de toda articulação da ex-governadora Roseana Sarney e do pai José
Sarney – querendo ganhar os créditos dos votos que Dilma recebeu no
Maranhão, que deu a maior votação em todos os estados brasileiros, a
presidente do país não levou isso em consideração e deixou a cúpula do
PMDB estadual fora do seu segundo governo.
A
decisão de Dilma Rousseff mostra, claramente, que a saída de Sarney da
vida política, deixará o grupo político do Governo Roseana cada vez mais
enfraquecido no cenário nacional.
E isso é só o começo.
Abaixo a relação dos 13 ministro:
Aldo Rebelo (Ciência Tecnologia e Inovação); Cid Gomes (Educação); Edinho Araújo (Secretaria de Portos); Eduardo Braga (Minas e Energia); Eliseu Padilha (Secretaria de Aviação Civil). George Hilton (Esporte); Gilberto Kassab (Cidades); Helder Barbalho (Secretaria de Aquicultura e Pesca); Jacques Wagner (Defesa); Kátia Abreu (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento); Nilma Lino Gomes (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial); Valdir Simão (Controladoria Geral da União) e Vinícius Lajes (Turismo).
São Luis - O coronel maranhense e senador pelo Amapá, José Sarney (PMDB), arregou para o conselheiro-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Maranhão, Edmar Serra Cutrim.
No último sábado (27), o ATUAL7 revelou que Sarney tentou pesar a mão contra Edmar em uma calorosa discussão no Palácio dos Leões, após o oligarca tomar conhecimento que o presidente do TCE/MA ‘liberou’ mais de prefeitos com a cabeça na guilhotina no órgão fiscalizador e controlador para votar no candidato do PCdoB ao Governo do Maranhão, Flávio Dino, principal adversário do candidato do consórcio Sarney/Lobão, o senador Edison Lobão Filho, o Edinho (PMDB). Após ouvir de Sarney que seria colocado ‘em seu devido lugar’ pela traição ao Clã, Edmar revidou que ‘pagava pra ver’ se o pai da governadora Roseana Sarney teria coragem de fazer algo contra ele.
A demonstração pública de arrego de Sarney na briga de peixe grande foi confirmada nesta terça-feira (30), com a saída pela tangente do velho morubixaba na declaração dada ao jornalista Marco Aurélio D’Eça, de que a ‘única divergência’ que já teve com Edmar ‘foi em relação a peixes’. Segundo fontes do ATUAL7 com livre trânsito em uma chácara em São José de Ribamar, a declaração foi encarada por Edmar Cutrim como um pedido de desculpas.
Último oligarca do país e prestes a perder o mandato, o senador José Sarney tem seus motivos para arregar na briga com o presidente do TCE/MA. O bigode poderoso do novo cabo-eleitoral de Dino é respeitado e temido em todos os Poderes do Estado, principalmente por membros da Oposição – inclusive pelo próprio candidato ao governo estadual do PCdoB.
São Luis - O
Deputado Federal, Gastão Vieira (PMDB), que integra a coligação “Pra
Frente Maranhão” como candidato ao Senado, juntamente com os candidatos
ao governo Lobão Filho e a vice-governador Arnaldo Melo, participa até o
próximo domingo de uma intensa agenda política no interior do estado.“Começamos
nossa caminhada com muita “paz e respeito”, apresentando nossas
propostas de quem já fez e pode realizar muito mais”, disse Gastão
Vieira.
O
peemedebista participou da primeira carreata de campanha no município
de São Domingos do Maranhão, nesta quinta-feira (17), percorrendo ruas e
povoados, a exemplo de Baixão Grande, localidade que segundo o
ex-ministro de turismo, já foi contemplado com vários benefícios
destinados por ele enquanto parlamentar.
“A
região do Médio Sertão é uma das regiões onde atuamos com muita
responsabilidade. Aqui nosso grupo político já contribuiu com a chegada
de energia elétrica, telefonia fixa além de estradas”, lembrou o
candidato ao senado.
Em
seguida a comitiva seguiu em carreata para o município de Passagem
Franca, onde foi recebida por centenas de militantes para o comício na
principal praça da cidade.No
local a comitiva foi recebida pelo prefeito de Passagem Franca,
Gordinho, que caracterizou o momento “como único e de grande alegria”.
Também aguardavam, deputados estaduais, vereadores e inúmeras lideranças
políticas de cerca de 15 municípios da região do Médio Sertão
maranhense.
Lobão
Filho destacou a sua satisfação de voltar à região, só que agora como
candidato ao governo do Maranhão. “Vamos seguir construindo esse novo
Maranhão porque me preparei para isso e sigo com meus aliados e amigos,
Arnaldo Melo e Gastão Vieira que hoje é o nome mais preparado para
assumir vaga no senado”, afirmou lembrando da trajetória de muito
trabalho do deputado Gastão Vieira a frente do Ministério do Turismo.
Enviado pela assessoria do candidato a senado Gastão Vieira
POR DIEGO ESCOSTEGUY, COM MARCELO ROCHA E LEANDRO LOYOLA
Brasília - No final do governo Lula, um jovem e brilhante operador do mercado financeiro ascendia no rarefeito mundo da elite política de Brasília.
Era Fabrizio Neves, dono da Atlântica Asset, empresa que montara fundos
no mercado financiados sobretudo pelo Postalis, fundo de pensão dos
Correios. O Postalis era comandado por afilhados do ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão, e do senador Renan Calheiros,
ambos do PMDB. Fabrizio dava festas e promovia jantares em Brasília e
São Paulo. Num deles, contratou o cantor Emílio Santiago e um dos
pianistas que tocavam com Roberto Carlos. Colecionador de armas, dono de
bom papo, Fabrizio fez amizades com políticos, diretores do Postalis e
lobistas – a maioria deles ligada ao PMDB. Segundo seis desses altos
quadros do PMDB, Fabrizio participava também das reuniões em que se
discutia o financiamento das campanhas em 2010. Com pouco tempo de
Brasília, Fabrizio já se tornara um homem poderoso na capital.
Sobre Fabrizio, sabia-se apenas que ele morara em Miami, onde fizera
fortuna no mercado financeiro. No Brasil, ele estava em alta; nos Estados Unidos,
era caçado por credores e pelos investigadores da Securities and
Exchange Comission, a SEC, órgão que regula o mercado financeiro
americano. Acusavam-no de ser o arquiteto de uma fraude que envolvia o
dinheiro arrecadado no Postalis. A caçada judicial terminou recentemente
nos Estados Unidos, e suas consequências ainda não se fizeram sentir no
Brasil. A ascensão de Fabrizio por lá se deu com dinheiro daqui –
dinheiro dos carteiros e funcionários dos Correios, que financiam suas
aposentadorias contribuindo para o Postalis. A queda de Fabrizio
terminou por lá. Mas ainda promete começar por aqui. E isso aterroriza o
PMDB.
A história de Fabrizio, contada em documentos confidenciais obtidos por
ÉPOCA nos Estados Unidos e no Brasil, ilustra à perfeição o efeito
devastador da influência da política nos fundos de pensão das estatais. É
um problema antigo, que resulta em corrupção e prejuízos aos fundos.
Ele atingiu novo patamar no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, com a ascensão de sindicalistas ligados ao PT à direção de
fundos como Previ, do Banco do Brasil, ou Petros, da Petrobras.
O caso do Postalis, maior fundo do Brasil em número de participantes
(110 mil), é especial. Foi o único fundo de grande porte aparelhado, no
governo Lula, pelo PMDB. Por indicação de Lobão, o engenheiro Alexej
Predtechensky, conhecido como Russo, assumiu a presidência do Postalis
em 2006. Com o apoio de Lobão e Renan, o administrador Adílson Costa
assumiu o segundo cargo mais importante do Postalis: a diretoria
financeira.
Amigo de Lobão, Russo tinha no currículo a quebra da construtora Encol,
nos anos 1990. Quando diretor da Encol, fora acusado de irregularidades
na gestão. Fora também sócio de Márcio Lobão, filho de Edison Lobão,
numa concessionária que vendia BMWs. No Postalis, sua gestão resultou em
péssimos números. Dono de um patrimônio de R$ 7 bilhões, o Postalis vem
acumulando perdas significativas. Entre 2011 e 2012, o deficit chegou
a R$ 985 milhões. No ano passado, o fundo somou R$ 936 milhões
negativos e, em 2014, as contas no vermelho já somam mais de R$ 500
milhões, com uma projeção para encerrar o ano acima de R$ 1 bilhão.
A situação do Postalis é tão grave que a Superintendência Nacional de
Previdência Complementar, a Previc, responsável por fiscalizar os fundos
de pensão, avalia uma intervenção no fundo. Os auditores da Previc
estão cansados de notificar e autuar os diretores por irregularidades.
Houve, ao menos, 14 autuações nos últimos anos, a que ÉPOCA teve acesso. Os mandatos de Russo e Adílson se encerraram em
2012. Foram substituídos por novos apadrinhados de Lobão e Renan. A
presidência ficou com o PT, que indicou Antônio Carlos Conquista –
autuado pela Previc por irregularidades na gestão de outro fundo. PT e PMDB
disputam agora as decisões pelos investimentos do Postalis. A ordem
política, dizem parlamentares, lobistas e funcionários do Postalis, é
diminuir os maus investimentos. Trocá-los por aplicações conservadoras,
de maneira a evitar a intervenção.
A conexão Miami
A ascensão de Fabrizio – e da turma do PMDB no Postalis – começa em
2006. O Postalis acabara de criar, ao lado de Fabrizio, o fundo Brasil
Sovereign, que deveria negociar, nos Estados Unidos, títulos da dívida
pública brasileira. É um tipo de investimento conservador, mais seguro
para quem investe nele, embora, por isso mesmo, costume render menos. Ao
menos 80% do dinheiro do Brasil Sovereign deveria ser investido nesses
títulos. Não foi o que aconteceu. Em maio de 2006, Fabrizio, então dono
da Atlântica Asset, passou a controlar outra financeira chamada LatAm,
com sede em Miami. Cabia à LatAm operar as transações com títulos da
dívida pública brasileira. Ao banco BNY Mellon, cabia administrar e
fiscalizar as operações de Fabrizio. Em vez de fazer investimentos
conservadores, Fabrizio, dizem a investigação da SEC e uma auditoria
externa contratada pelo Postalis, fez roleta-russa com o dinheiro do
Postalis. Investia em produtos financeiros complexos e arriscados, por
meio de um instrumento conhecido como “nota estruturada”. Ao fazer as
operações, segundo as investigações, desviava dinheiro para contas
secretas de empresas com sede em paraísos fiscais. Por baixo, os
investigadores estimam que US$ 24 milhões foram cobrados indevidamente
do Postalis.
Segundo as investigações, a maioria das empresas que recebiam o
dinheiro desviado era controlada por Fabrizio. Havia uma que não era: a
conta da Spectra Trust, empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, um
paraíso fiscal. Segundo a Justiça americana, a conta pertencia a
Predtechensky, o Russo, então presidente do Postalis. Um dos dirigentes
da corretora de Fabrizio, que colaborou com as investigações, disse em
depoimento que ajudou a montar as contas secretas. E que Russo fora
apresentado aos funcionários da corretora como o homem dos “fundos de
pensão brasileiros”. Em novembro de 2007, US$ 1,5 milhão foi transferido
à Spectra. Os investigadores ainda tentam descobrir o total depositado
na conta da Spectra.
Meses depois, em 11 de julho de 2008, o Postalis depositou R$ 100
milhões na conta do fundo Brasil Sovereign. Era o sexto e último grande
investimento do Postalis no fundo operado por Fabrizio. Desde que o
Brasil Sovereign começara, três anos antes, o Postalis transferira R$
371 milhões para o controle, na prática, de Fabrizio. A soma dos valores
era alta, mesmo para os padrões dos fundos de pensão das estatais. Os
investimentos passavam relativamente despercebidos por causa de uma
tática comum. Em vez de fazer grandes investimentos de uma só vez,
diretores como Russo e Adílson depositavam somas mais modestas,
distribuídas por meses – até anos. O expediente era possível graças à
larga autonomia que Russo e Adílson detinham. Podiam autorizar, sem
precisar recorrer ao Conselho do Postalis, investimentos individuais de
até R$ 120 milhões. Para efeito de comparação, diretores da Petrobras
têm autonomia para gastar até R$ 30 milhões – e, mesmo assim, com mais
limitações. A mesma autonomia existe nos fundos de pensão das outras
estatais.
Seis dias após o último depósito de R$ 100 milhões, a corretora de
Fabrizio nos Estados Unidos pagou US$ 7 milhões por uma nota estruturada
do Lehman Brothers – banco que, três meses depois, quebrou e quase
levou a economia mundial junto. Era um produto arriscado de origem que,
no mercado, já se desconfiava duvidosa (o Lehman). No mesmo dia, segundo
a investigação da SEC, a corretora de Fabrizio deu início a mais uma
fraude, que obrigou o Postalis a pagar, pela nota estruturada, mais do
que ela valia. Os documentos da SEC demonstram que a diferença, ou ao
menos parte substancial dela, foi desviada nas semanas seguintes para a
conta da Spectra, a empresa secreta de Russo, presidente do Postalis.
Nos anos seguintes, prosseguiu a prática de investir nesse tipo de
produto. Em 13 de outubro de 2009, Fabrizio, para aplacar outros
credores, entrou com um pedido de falência na Justiça americana. No
Brasil, era outra história. Dez dias antes, a corretora de Fabrizio
começara a arrecadar mais dinheiro do Postalis, desta vez com um fundo
para investir em serviços de saúde. No começo de 2010, sua corretora
recebeu R$ 2 milhões do Postalis. Em maio, as autoridades americanas
proibiram Fabrizio de continuar operando no mercado financeiro. Eram os
tempos das festas em Brasília.
Em dezembro de 2011, quando as investigações da SEC se aproximavam do
fim, Fabrizio trocou cerca de US$ 130 milhões do Brasil Sovereign por
produtos financeiros arriscados, como as tais notas estruturadas. Fez
isso sem consultar o Mellon e o Postalis, como mandava a lei. O Brasil
Sovereign, que deveria aplicar 80% dos recursos em títulos da dívida,
tinha 71% do dinheiro aplicado em papéis sem garantias de pagamento.
Dificilmente o Postalis recuperará o dinheiro. Por isso, tenta um acordo
com o Mellon, que poderia, diz o Postalis, ter evitado os prejuízos. O
Postalis quer que o Mellon pague, ao menos, R$ 400 milhões. Em fevereiro
deste ano, Fabrizio fez um acordo com a Justiça da Flórida e com a SEC.
Aceitou pagar US$ 4,5 milhões para não ir a julgamento, desde que não
desminta publicamente os achados da investigação. Os investigadores
americanos querem que ele colabore no rastro do dinheiro desviado.
O ministro Lobão afirma, por meio de nota, que conhece Russo há anos.
Russo diz o mesmo. Mas Lobão, ao contrário de Russo, acrescenta: “A
relação é de amizade”. Lobão, contudo, não admite sequer ter indicado
Russo ou os atuais diretores do Postalis. “As nomeações no Postalis são
feitas por um Conselho que atua vinculado a outro Ministério (o da Previdência)”,
diz. Sobre a relação com Fabrizio e a atuação dele nas campanhas do
PMDB em 2010, Lobão limita-se a dizer que “esteve com ele em eventos
sociais, mas não em 2010”. Márcio Lobão, ex-sócio de Russo, diz que se
mudou de Brasília para o Rio em 2000 e que, desde então, não mantém
contato com ele: “Nunca mais tive qualquer vínculo comercial, social ou
empresarial com o senhor Alexej”. O senador Edison Lobão Filho afirma
não manter qualquer tipo de relacionamento com o ex-presidente do
Postalis Alexej Predtechensky. “Não converso com esse indivíduo”, diz.
“Graças a Deus (não tenho relacionamento comercial com ele). Se
tivesse recebido algum valor dele, estaria pensando em me suicidar.”
Aparentemente, a origem da raiva é a antiga sociedade entre Alexej e
Márcio, irmão do senador, na concessionária BMW em Brasília. “Meu irmão,
muito jovem, perdeu o negócio da vida dele por causa da gestão desse
indivíduo. A BMW tomou a concessionária dele.”
Russo nega, por meio de nota, que tenha participado dos desvios descobertos pela SEC. “A offshore (Spectra Trust)
foi aberta com a intenção de adquirir um imóvel nos Estados Unidos. A
aquisição do imóvel não ocorreu, a empresa nunca realizou nenhuma
movimentação”, diz ele. Russo disse que “nunca determinou” a abertura da
conta bancária em nome da Spectra Trust, que recebia dinheiro após as
operações ilegais. “A conta foi aberta de forma fraudulenta. Não tinha
conhecimento nem da abertura da conta nem de movimentação nela.” Diz que
nomeou advogados, no Brasil e nos Estados Unidos, para apurar o fato e
afirma desconhecer “a origem e destino desses recursos e aguardar as
apurações das autoridades competentes nos Estados Unidos para tomar
medidas judiciais cabíveis”. Russo enviou a ÉPOCA um laudo produzido nos
EUA por uma perícia independente. Segundo a interpretação de Russo,
esse laudo comprova, por meio da análise das assinaturas usadas na
abertura da conta, que a letra usada não era dele. O laudo aponta
inconsistências, mas não afirma que houve fraude. Diz ainda ser
“provável”que a assinatura seja mesmo de Russo. Russo não forneceu a
ÉPOCA os documentos analisados.
Tanto Russo quanto Adílson, então diretor financeiro do Postalis,
defendem a decisão de investir no Brasil Sovereign. “O investimento
atendia aos requisitos legais e ao que determinava a legislação e a
política de investimentos aprovada em conselho”, dizem ambos, em nota. O
Postalis, por meio de nota, afirma algo parecido: “A decisão pelo
investimento foi da Diretoria Financeira à época e seguiu os
procedimentos e normas do Instituto. As aplicações estavam em
conformidade com as regras e limites previstos nas Resoluções do
Conselho Monetário Nacional e a Política de Investimento do Postalis”.
Na nota, o Postalis afirma ainda que trabalha para resolver o mico:
“Assim que tomou conhecimento do assunto, a Diretoria Executiva ajuizou
protesto interruptivo de prescrição. Além disso, contratou escritório de
advocacia nos EUA para a adoção de medidas cabíveis em defesa dos
interesses do Instituto”.
O Mellon, que administrava o Brasil Sovereign em nome do Postalis,
prefere não dar explicações sobre o caso. “Apesar de não podermos
comentar assuntos específicos de clientes, ressaltamos que levamos a
sério nossas responsabilidade e estamos focados em fornecer aos nossos
clientes serviços de qualidade e em ganhar sua contínua confiança”, diz o
Mellon em nota. Pelo acordo que fez com a Justiça americana, a que
ÉPOCA teve acesso, Fabrizio não pode comentar, muito menos negar
publicamente, as fraudes investigadas pela SEC no Brasil Sovereign. “Não
vou falar”, diz, mesmo quando questionado sobre sua relação com Russo e
o PMDB. Brian Miller, advogado de Fabrizio nos EUA, não respondeu às
ligações de ÉPOCA.
O Postalis minimiza as autuações da Previc a seu atual presidente,
Conquista. “Autuação não é condenação. No caso do Postalis, o único auto
de infração imputado ao presidente foi julgado improcedente. No que se
refere à GEAP, não há decisão administrativa definitiva, sendo que um
dos autos também já foi divulgado improcedente”, diz o Postalis.
A ascensão de Miltinho
Enquanto Fabrizio caía em desgraça, o lobista Milton Lyra, ligado a
Renan e conhecido como Miltinho, ascendia em Brasília. Criou relações
com Russo e Adílson. Miltinho organizou um investimento que deu
prejuízos ao Postalis. Em 2010, o grupo Galileo Educacional foi criado
para tentar salvar a universidade Gama Filho da bancarrota. O Galileo
emitiu R$ 100 milhões em debêntures, títulos em que a empresa paga juros
no futuro a quem a financia. A garantia eram as mensalidades do curso
de medicina, o mais respeitado. O Postalis investiu R$ 75 milhões no
Galileo. Dois anos depois, Miltinho tornou-se diretor do Galileo. No ano
passado, o Ministério da Educação descredenciou a Gama Filho, e
milhares de estudantes ficaram sem aulas, sem diploma e, claro, não
pagaram mensalidades. O grupo Galileo está quebrado, com uma dívida de
cerca de R$ 900 milhões.
Também em 2010, Russo e Adílson fizeram outra operação questionável
para o Postalis. A dupla vendeu a sede do Postalis, em Brasília, a
cunhados de Miltinho, por R$ 8,2 milhões. O negócio foi feito em nome de
uma empresa criada seis meses antes. Phelipe Matias, um dos cunhados,
afirma ter faturado cerca de R$ 1,2 milhão em aluguéis antes de revender
o prédio. Agora, o Postalis paga R$ 139 mil de aluguel para ficar no
mesmo lugar. A Previc autuou o Postalis pela operação. Por
irregularidades, a Previ aplicou a Russo e Adílson multas de R$ 40 mil e
os inabilitou por dois anos.
O Postalis diz que “desinvestir em imóveis foi uma decisão estratégica
do Instituto”. Afirma que, na venda do edifício-sede, houve concorrência
e que a proposta dos cunhados de Miltinho era a melhor. Renan confirma
que conhece Miltinho, mas não informa se fizeram ou mantêm negócios em
comum.
A eleição para governador no Maranhão
está em meio a uma reviravolta. Aposta da governadora Roseana Sarney
(PMDB) para sucedê-la, o ex-secretário estadual de Infraestrutura, Luís
Fernando Silva (PMDB), desistiu nesta segunda-feira de participar da
disputa. Quem deverá substituí-lo é o senador Lobão Filho (PMDB), que
exerce o mandato no lugar do pai, o ministro das Minas e Energia, Edison
Lobão (PMDB).
Lobão Filho, de 49 anos, recupera-se de
uma cirurgia de hérnia de hiato, que duraria apenas duas horas e acabou
levando dez horas, depois que os médicos descobriram que seu estômago
estava fundindo-se com o pulmão. O parlamentar fez a cirurgia para não
ter problemas de saúde durante a campanha eleitoral e se preparava para
concorrer ao Senado. Ainda no hospital, recebeu a ligação de Roseana,
lhe informando sobre a desistência de Luís Fernando Silva.
“Foi com surpresa que recebi a ligação
dela, dizendo que todo o grupo político estava indicando o m eu nome. Eu
disse que aceitaria com muito prazer e que iríamos iniciar as conversas
com o grupo político, que é muito grande. E que, havendo consenso,
teria muita honra. Estou preso em casa, me recuperando. Na
segunda-feira, começo a batalha”, contou ao Valor PRO, serviços de
notícias em tempo real do Valor, lembrando que, segundo os médicos, teve
sorte em fazer logo a cirurgia, pois, do contrário, lhe restaria apenas
mais dois ou três meses de vida.
O senador só não é enfático em assumir a
condição de pré-candidato — ao citar a necessidade de conversas com o
grupo político — porque o senador João Alberto (PMDB) também teria
demonstrado interesse em concorrer. “O João Alberto já foi governador,
senador, prefeito, tem imensa experiência política. Tem todo o direito
de ser. Ficarei feliz, se ele for. Se não, preciso da presença dele na
minha campanha”, diz.
Lobão Filho afirma que um de seus
primeiros compromissos, caso eleito, será o de pôr abaixo o complexo
prisional de Pedrinhas, mas “não com os presidiários dentro”, ressalta. O
local foi palco de cenas de barbárie no início do ano, quando presos
mataram e degolaram outros presidiários, numa crise de segurança que
também levou a ataques de postos de polícia e ônibus queimados.
O senador afirmou não saber as razões da
desistência de Luís Fernando Silva em concorrer ao governo. Mas
reconheceu que fazia parte da estratégia dele ser eleito governador,
indiretamente, pela Assembleia Legislativa, para se tornar mais
conhecido da população, durante um mandato-tampão, e ser reeleito com
mais facilidade em outubro — o que não foi possível.
Ex-prefeito de São José de Ribamar, Silva
iniciou o governo Roseana como secretário da Casa Civil e depois
assumiu a pasta de Infraestrutura numa estratégia para ganhar mais
visibilidade. Passou a inaugurar obras por todo o Estado, com o objetivo
de aumentar as intenções de voto nas pesquisas eleitorais, o que vinha
ocorrendo de maneira muito lenta.
O ex-presidente da Embratur, Flávio Dino
(PCdoB), pré-candidato que foi derrotado por Roseana em 2010, lidera a
corrida para o Palácio dos Leões, com quase 50% das preferências.
O fator mais importante para Luís
Fernando Silva abandonar a disputa, no entanto, foi a decisão da
governadora, anunciada na sexta-feira, de permanecer no cargo até o fim
do mandato e não concorrer ao Senado.
Silva esperava que as duas candidaturas,
em dobradinha, pudessem alavancá-lo. Além disso, contava que a
governadora levasse adiante o projeto de elegê-lo governador indireta e
antecipadamente pela Assembleia. O plano começou a ser posto em prática,
no ano passado, quando o vice-governador, o então petista Washington
Oliveira, foi indicado ao Tribunal de Contas do Estado, numa manobra
criticada pela oposição.
Sem o vice, a ideia era que Roseana se
desincompatibilizasse para concorrer à vaga ao Senado. Isso forçaria a
realização de uma eleição, pelos 42 deputados estaduais, para a escolha
de alguém que assumisse o mandato até o fim do ano. A intenção era que
Luís Fernando Silva fosse o escolhido e disputasse a reeleição em
outubro em condições mais favoráveis, no controle da máquina
administrativa e com maior exposição.
O problema é que o presidente da
Assembleia, Arnaldo Melo (PMDB), também manifestou vontade de concorrer à
eleição indireta e se tornou um obstáculo para os planos de Roseana e
de seu ex-secretário, que saiu do governo na sexta-feira.
Folha de São Paulo - JULIANA COISSI (FOLHA DE SÃO PAULO)
ENVIADA ESPECIAL A GOVERNADOR EDISON LOBÃO (MA)
O lavrador José Barros da Silva, 63 anos,
se recorda do tempo de menino quando brincava nas ruas de terra de um
povoado surgido a partir da construção da BR-010, no interior do
Maranhão, no fim dos anos 50.
Ribeirãozinho, antigo nome do vilarejo, é
como ainda hoje ele e a maioria dos moradores locais preferem se
referir ao município de Governador Edison Lobão.
Antes pertencente a Imperatriz, o antigo
distrito tornou-se município em 1994. Foi quando deixou de ser
Ribeirãozinho e adotou o nome do político maranhense aliado da família
Sarney. Lobão governou o Maranhão de 1991 a 1994. Hoje ocupa o cargo de
ministro de Minas e Energia.
Polêmica, a homenagem é alvo de uma disputa judicial, de falatórios e dúvidas na cabeça dos moradores.
“Para os antigos, o povo em geral, aqui
se chama Ribeirãozinho. Meus filhos nascidos aqui conhecem assim”, diz o
lavrador José da Silva.
Ele, a mulher e os filhos edison-lobenses
–Josenildo, 14 anos, José, 12, e Joselângela, 6– vivem em uma casa de
taipa, com parede de barro.
Apesar de o ônibus local trazer espremido
“Governador Edison Lobão” no letreiro, os nativos teimam em usar o nome
antigo.”Quando a gente pergunta no ponto, é assim: Já passou a linha
para Ribeirãozinho?’. Ninguém pergunta por Governador Edison Lobão”, diz
a comerciante Graziely Pereira da Silva.
“Ninguém foi consultado [sobre o nome do município], mudou assim, do nada”, diz.
Além de mais antigo, Ribeirãozinho soa
mais fácil, defendem alguns: “É mais mais rápido de dizer”, afirma a
dona de casa Marlene Oliveira.
Uma rara voz dissonante na preferência
por Ribeirãozinho é a do vigia Antonio Barbosa Nascimento. Ele logo
justifica: a homenagem ao conterrâneo e atual ministro pode trazer
dividendos para a cidade. “Dá pra cobrar mais o ómi’, né? A cidade tá no
nome dele”, argumenta.
O funcionário público Carlos Almeida
rebate. “Mas é isso que o povo reclama: um ministro que nunca vem aqui,
nunca teve carinho pela cidade com o nome dele”, diz.
INCONSTITUCIONAL
Mais
do que ser um nome comprido demais ou diferente do tradicional,
homenagear o político ainda vivo seria inconstitucional e lhe daria
vantagens eleitorais, diz o Ministério Público Federal.
Em 2013, a Procuradoria obteve uma
decisão da Justiça que determinava a mudança do nome, ou a cidade
ficaria impedida de receber recursos federais.
Uma alteração dessa natureza depende de
lei estadual. Mas a votação está emperrada na Assembleia Legislativa
local, onde a maioria apoia a governadora Roseana Sarney (PMDB), aliada
do ministro.
Procurada para comentar, a Assembleia
Legislativa não se manifestou. Assim como a assessoria de imprensa do
Ministério de Minas e Energia.
Morador não tem luz na ‘cidade do ministro da Energia’
DA ENVIADA A GOVERNADOR EDISON LOBÃO (MA)
Na cidade que homenageia o seu nome o
atual ministro de Minas e Energia, Manoel Severino da Conceição dos
Santos, 53, vive sem luz na casa onde trabalha como caseiro.
No imóvel, que fica na zona rural de
Governador Edison Lobão, Manoel recorre a um motor movido a gasolina
para acender lâmpadas, ligar o chuveiro ou assistir TV.
Mas o improviso não garante energia constante.
Como um galão de 20 litros de gasolina
custa R$ 50 e dura em média uma semana, ele precisa economizar. “Lá, na
minha casa no centro, eu fico acordado até às dez da noite, assistindo
filme na TV. Aqui, com a escuridão, às sete [19h] eu já estou na cama.”
Sem geladeira, Manoel leva água em uma garrafa térmica sempre que volta do almoço em sua casa.
Ele diz que há quatro meses o dono do
imóvel pediu a ligação da luz à Cemar (Companhia Energética do
Maranhão), mas não teve resposta.
Em outra casa, a fiação elétrica chegou, mas graças a uma ligação clandestina –um “gato”.
A maior parte da cidade, porém, já está
interligada na rede. A assessoria da Cemar não informou por que há
imóveis rurais sem energia no município.
O Ministério de Minas e Energia (MME) também foi espionado por agências estrangeiras, segundo reportagem veiculada ontem (6) no programa Fantástico, da Rede Globo. Em nota, o MME, classificou como “grave” o monitoramento de seus sistemas de comunicação e de armazenamento de dados. Por meio de sua conta no Twitter, a presidenta Dilma Rousseff informou já haver determinado ao ministro da pasta, Edison Lobão, uma “rigorosa” avaliação e o reforço da segurança desses sistemas.
De acordo com a matéria do Fantástico, a espionagem de autoridades brasileiras não está sendo feita apenas pelos Estados Unidos. Conta também com a participação da Agência Canadense de Segurança em Comunicação (Csec), que teria mapeado as comunicações de computadores, telefones fixos e celulares do ministério.
A reportagem lembra que, de cada quatro grandes empresas de mineração do mundo, três têm sede no Canadá, país que, segundo o ministro da pasta, Edison Lobão, tem interesse sobretudo no setor mineral brasileiro. Segundo nota do MME, a espionagem “sugere a tentativa de obtenção de informações estratégicas relacionadas com as áreas de atribuição da pasta”.
A presidenta Dilma Rousseff, que também foi alvo da espionagem norte-americana, disse pela rede social que confia na segurança do sistema de dados do MME, mas que a denuncia confirma as razões econômicas e estratégicas por trás dos atos da agência de inteligência canadense. “A reportagem aponta para interesses canadenses na área de mineração”, escreveu.
Dilma informou, ainda, que o Ministério de Relações Exteriores vai pedir explicações do governo do Canadá. “A espionagem atenta contra a soberania das nações e a privacidade das pessoas e das empresas”, escreveu. A presidenta ressaltou o fato de que Edward Snowden (o primeiro a fazer as denúncias de espionagens feitas pelos EUA) trabalhava havia apenas três meses na empresa que prestava serviços à NSA e, mesmo assim, teve acesso a todos os arquivos que serviram de fonte para as denúncias divulgadas até agora.